LHC: A Máquina de brincar de Deus
Por: Revista Veja
O maior acelerador de partículas do mundo vai reproduzir os fenômenos que sucederam ao Big Bang, a "súbita expansão" inicial do universo.
A atmosfera pastoril na vizinhança do maior laboratório de física da Europa, o Cern, na periferia de Genebra, na Suíça, esconde a descomunal liberação de energia que se ensaia nos subterrâneos da região.
Ali está sendo preparado o mais ousado experimento da história da física. Cem metros abaixo da superfície, físicos, engenheiros e técnicos fazem os acertos finais para pôr em operação a maior máquina já construída em todos os tempos – o acelerador de partículas LHC (sigla para Large Hadron Collider). O hádron, palavra grega que significa grosso, é uma partícula subatômica com massa – um próton, no caso. Ele é uma alegria para os cientistas por ser fortemente interativo.
Os físicos, tanto quanto os paparazzi de celebridades, estão sempre interessados em flagrar interações. Sob essa ótica, o LHC é um reality show que vai produzir e acompanhar as interações mais íntimas do interior da matéria jamais observadas pelo homem. O LHC demorou catorze anos para ser construído e custou 8 bilhões de dólares.
Previsto para outubro, o começo do funcionamento do LHC vem dominando as atenções da comunidade científica mundial. Seus responsáveis vão recriar as condições que existiam no universo quando ele tinha apenas um trilionésimo de segundo de existência. Isso é um feito de extraordinárias conseqüências práticas e teóricas. Equivale a lançar uma sonda capaz de viajar 13,7 bilhões de anos no tempo e registrar o espaço a sua volta, transmitindo dados para o mundo atual instantaneamente.
Os químicos e biólogos nunca tiveram uma ferramenta tão poderosa a sua disposição. Para os primeiros, equivaleria a ter um microscópio que pudesse captar e mandar imagens das primeiras moléculas orgânicas, surgidas há 4 bilhões de anos, transformando-se em células capazes de fazer cópias perfeitas de si próprias.
Para os biólogos, seria como estar numa arquibancada de cerca de 540 milhões de anos atrás, assistindo ao evento singular e misterioso batizado de Explosão Cambriana, quando a evolução se acelerou de forma espetacular no planeta. Ao final da Explosão Cambriana, a vida na Terra passou a ser dominada por animais e plantas que qualquer humano de hoje reconheceria como tais.
Os físicos vão brincar de Deus com o LHC. Eles acelerarão seus hádrons em sentidos opostos dentro de anéis gigantescos, levando-os a 99,9% da velocidade da luz. Então, com a ajuda de um poderoso ímã, vão obrigá-los a mudar de sentido e se chocar. O choque espatifará os hádrons diante de placas sensíveis, que vão registrar e analisar o resultado da trombada – restos de matéria e energia miraculosamente encapsuladas, cada um produzindo uma assinatura de sua natureza e de sua hierarquia no momento da criação do universo.
De todas as partículas a ser produzidas na colisão monunental, a que mais interessa aos físicos detectar é um certo "bóson de Higgs", que por enquanto existe apenas nas equações geniais de um físico inglês de 79 anos chamado Peter Higgs. O termo bóson designa um tipo de partícula que foi batizada em homenagem ao físico indiano Styendra Nath Bose, morto em 1974.
Os bósons podem ir do genérico fóton de luz ao especialíssimo bóson de Higgs, que, na teoria, deu ao universo aquilo que mais nos interessa, a matéria, sem a qual os espertos bípedes surgidos na savana africana há 100 000 anos não estariam aqui hoje especulando sobre seu passado e a origem do mundo e da vida. Ele foi a partícula mensageira que carregou a energia de um campo que também tem o nome de Higgs. É por meio da interação com esse campo que as outras partículas ganharam massa no começo de tudo.
Quanto maior a interação, maior a massa da partícula. O bóson de Higgs é vital não apenas para sustentar o universo. Se ele não se materializar nas trombadas do LHC em Genebra, o que desmorona é a reputação de gerações e gerações de físicos festejados como gênios na academia.
O bóson de Higgs é também chamado de "Partícula de Deus". Mas, sem ela, quem está em apuros não são as religiões e suas versões para o gênese, e sim a ciência. Encontrar a assinatura do bóson de Higgs nas placas detectoras do LHC em Genebra provaria a teoria amplamente aceita no mundo científico. Também forneceria uma peça-chave no complicado quebra-cabeça que tenta explicar a origem de tudo.
"Se o bóson de Higgs existir, da maneira como a teoria prevê, ele vai aparecer no LHC", disse a VEJA o físico Wolfgang Hollik, diretor do Instituto Max-Planck para a Física, na Alemanha. A certeza de Hollik vem de cálculos realizados por ele e seus colegas para determinar a massa do bóson de Higgs. Segundo os físicos, as colisões produzirão energia mais do que suficiente para recriá-lo em grandes quantidades.
Como os cientistas têm tanta certeza de que as trombadas de prótons do novo acelerador darão origem a partículas que nunca foram vistas? Simples. Com seus 27 quilômetros de circunferência, o LHC é a pista perfeita para acelerar prótons a uma velocidade próxima à da luz, aumentando sua energia. Depois de completamente acelerado, um único feixe de prótons, com cerca de 100 bilhões de partículas, terá energia equivalente à de um trem de 400 toneladas viajando a 150 quilômetros por hora.
Quando se imagina que cada feixe será um pouco maior que uma agulha de costura, a concentração de energia é gigantesca. Segundo a famosa equação de Einstein E=mc2 (energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado), massa e energia podem ser transformadas uma na outra. Ao baterem de frente, os prótons terão energia de sobra para criar mini-Big Bangs e reproduzir as partículas presentes na infância do universo, incluindo o bóson de Higgs.
A intensidade energética atingida no LHC será sete vezes mais forte que no Tevatron, o acelerador mais poderoso em operação, do laboratório americano Fermilab. Se uma pessoa entrasse na frente de um dos feixes de prótons do LHC, ela seria instantaneamente vaporizada. Tamanho poder vem por um preço alto. Enquanto estiver funcionando, o LHC consumirá eletricidade suficiente para abastecer quarenta shopping centers.
O consumo só não será maior porque se resfriará o acelerador a 271 graus negativos, usando-se hélio na forma líquida. A temperatura, mais baixa que a do espaço, fará com que os materiais do LHC se tornem supercondutores, ou seja, eles oferecerão menor resistência à eletricidade e não dissiparão energia na forma de calor. Se fosse operar com a mesma potência sem o resfriamento, o novo acelerador gastaria quarenta vezes mais eletricidade.
Acelerar e colidir partículas é apenas a primeira parte do trabalho. Cada colisão produz milhares de novas partículas, que são analisadas por enormes aparelhos, os detectores. No total, são quatro detectores – Atlas, CMS, Alice e LHCb – instalados em cavernas cavadas ao longo do túnel subterrâneo onde está instalado o LHC. Um único detector, como o Atlas, pesa 7 000 toneladas em equipamentos.
Quase todas as peças dele tiveram de ser baixadas por um guindaste através de um poço. As muito grandes precisaram ser colocadas de lado para passar pelo túnel. Uma vez no subsolo, as peças são conectadas por engenheiros e técnicos. "É como montar um daqueles navios que vão dentro de garrafas. Algumas partes, depois que você colocou, não tem mais como tirar", explica Denis Oliveira Damazio, físico brasileiro que trabalha no Cern e na construção do Atlas.
A parte mais complicada é ligar e testar os milhões de fios que enviam os dados das colisões a uma central de computadores. Cada trombada de prótons gera uma cascata de novas partículas que "batem" nas placas dos sensores, onde dados como sua energia e velocidade são transformados em sinais digitais que seguem para os computadores. Cerca de 600 milhões de colisões ocorrerão por segundo nos núcleos dos detectores do LHC, mas os computadores vão selecionar somente uma centena delas para ser armazenadas, usando critérios preestabelecidos pelos físicos.
Os dados seguirão para uma rede mundial de computadores, chamada de Grid, montada exclusivamente para guardar os dados produzidos pelo acelerador. Uma vez no Grid, as informações sobre as colisões estarão disponíveis para cientistas do mundo todo. Em apenas um ano de funcionamento, o LHC gerará 15 milhões de gigabytes de informação, que precisariam de 3,2 milhões de DVDs para ser armazenados.
Com tamanha quantidade de dados obtidos em apenas um ano, era de esperar que o bóson de Higgs aparecesse logo nos primeiros meses de funcionamento do LHC. Infelizmente, não é bem assim que funciona. Além de nunca ter sido detectado, ou seja, os cientistas não sabem exatamente o que vão encontrar porque há várias teorias, o bóson de Higgs é o que os físicos chamam de partícula instável. Se for criado depois das colisões, o bóson durará somente algumas frações de segundo e logo depois decairá em outros tipos de partícula mais estáveis.
Em outras palavras, ele não é diretamente registrado pelos sensores, o que dificulta o trabalho dos cientistas. Para encontrá-lo, os físicos precisarão analisar a montanha de dados das colisões e procurar por perturbações energéticas que indiquem sua presença. A estimativa mais otimista é que a existência do bóson de Higgs seja confirmada um ano após o LHC entrar em funcionamento.
E se o bóson de Higgs não aparecer? Os físicos terão de rever sua explicação para o universo como o conhecemos. Isso porque o bóson de Higgs é uma peça-chave do Modelo-Padrão, sistema usado pelos cientistas para explicar a organização dos tijolos fundamentais que formam a matéria. Sem o bóson de Higgs, ou algo parecido com ele, o Modelo-Padrão, que tem sido testado e aprovado nos últimos quarenta anos, terá de ser revisto ou descartado. Disse a VEJA Benjamim Allanach, físico da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. "Para mim, a ‘brincadeira’ fica mais excitante se não acharmos o Higgs, porque teremos de encontrar outras explicações para o início de tudo."
Andy Parker é um físico experimental. Isso significa que se dedica a comprovar por meio de experiências aquilo que os teóricos explicam apenas por meio de equações e raciocínios. Quando ele começou a trabalhar na construção do detector Atlas, do LHC, o enorme equipamento era apenas uma idéia num pedaço de papel. Parker falou a VEJA em seu escritório no Laboratório Cavendish, na Universidade de Cambridge, Inglaterra.
Como o senhor define seu trabalho?
Eu vou da teoria à prática. Meu trabalho é realizar as melhores experiências para testar as novas teorias que tentem explicar como o mundo funciona. Algumas vezes isso significa fazer descobertas, o que é muito empolgante. Na maior parte do tempo, os físicos experimentais provam que as teorias estão erradas.
Vai ser fácil encontrar o bóson de Higgs no LHC?
Higgs é a única partícula do Modelo-Padrão que não encontramos até agora, e não foi por falta de tentativa. Não sabemos exatamente quanto pesa, então precisamos procurá-la em toda parte. É como tentar achar algo no escuro. Num cenário favorável, nós encontraremos Higgs em um ano. Se a partícula for leve, a busca será mais difícil e poderá levar três anos ou mais.
O que acontecerá se a partícula de Higgs não aparecer?
Todo o nosso modelo de física de partículas se baseia no Higgs. Sem ele, seria difícil justificar nossas teorias. Então precisaremos encontrar algo novo para pôr em seu lugar. Para mim, seria muito mais interessante tentar encontrar esse algo novo do que uma coisa já esperada.
Qual seria a maior descoberta do LHC?
Encontrar outras dimensões do espaço. Seria tão excitante quanto descobrir uma "quinta dimensão", como aquela dos filmes de ficção científica. Há muitas teorias prevendo a existência de outras dimensões. Elas são a chave para a criação de uma teoria unificada da física que junte as quatro forças fundamentais da natureza.
O senhor passou quase trinta anos trabalhando no projeto do Atlas. O que o manteve motivado?
O desafio diário de projetar e construir o melhor detector de partículas possível, e também a possibilidade de revelar o que a natureza manteve escondido de nós.
O que há de tão excitante em provocar a colisão de partículas?
É uma maneira de ver o desconhecido ao recriar as condições que existiram logo depois do Big Bang. Com um acelerador, nós podemos explorar os menores tijolos da matéria. E, claro, os aceleradores de partículas são uns "brinquedinhos" bem interessantes.
Estamos nos aproximando do ponto em que não haverá mais nada para ser descoberto?
Não creio nisso. Toda vez que subimos na escala de energia dos aceleradores, encontramos novas coisas. A natureza sempre dá um jeito de nos surpreender e a ciência vai continuar fazendo novas perguntas, porque o homem é uma espécie curiosa.
Consumo e aquecimento global
Por: Akatu - Mariana Chammas e Helio Mattar
O Instituto Akatu esteve presente na 15ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague. O objetivo era analisar como o consumo estaria sendo pautado nas discussões de mudanças climáticas, além de buscar introduzir as questões relacionadas ao consumo nos eventos paralelos.
Naturalmente, dentro da linha trabalhada pelo Akatu, trata-se de introduzir a questão do poder contido nos atos individuais de consumo, que podemos ser e fazer a mudança de comportamentos para contribuir com a sustentabilidade da vida no planeta. Nesse sentido, é uma reflexão sobre o estilo de vida, sobre o espaço ocupado pelo consumo na vida contemporânea.
Estamos convencidos, no Akatu, de que não haverá sustentabilidade sem uma mudança no estilo de vida das sociedades expresso por mudanças nos comportamentos de consumo. Apenas as mudanças tecnológicas não serão suficientes para fazer frente ao tamanho da crise climática atual. No entanto, a questão do consumo praticamente não foi abordada nas reuniões da COP-15.
Naturalmente, não se esperava que o consumo fosse tratado nas salas de negociações, visto que ali as questões eram mais técnicas e específicas, envolvendo NAMAs, REDD, quanto os países do Anexo 1 deveriam ou não pagar aos países em desenvolvimento, metas de emissão para 2020, entre outros temas. Mas, mesmo nos eventos paralelos do Bella Center, local onde aconteceram as negociações, praticamente não se falou de consumo, que foi mencionado apenas em eventos específicos — por exemplo, onde se fazia a ligação entre desmatamento e consumo de carne. No entanto, tanto quanto pudemos perceber na lista dos eventos paralelos à COP-15, e mesmo nos Fóruns externos ao Bella Center, o consumo não foi abordado sob a perspectiva do indivíduo com capacidade de transformação de seu entorno.
Por outro lado, um tema exaustivamente abordado foi o das novas tecnologias mais sustentáveis, envolvendo desde novas formas de produção de energia e novas tecnologias de produção até sistemas para equipar uma casa sustentável.
Sem dúvida, as tecnologias podem contribuir no combate ao aquecimento global. O risco, no entanto, é de uma acomodação no sentido de se pensar que as novas tecnologias mais sustentáveis vão permitir manter o modelo de consumo atual. Ao pensar assim, esquecemos que as mudanças climáticas são um entre vários problemas ambientais que
tornam insustentável a sociedade atual, sem falar nos problemas sociais, econômicos e individuais.
Inovações tecnológicas são necessárias, mas não suficientes
Se, por um lado, é muito bom que se desenvolvam tecnologias mais sustentáveis, as mesmas devem ser tomadas como medidas de transição durante o processo de transição para um novo consumo, um consumo diferente, um novo estilo de vida, em que a sociedade como um todo deverá caminhar na direção dos produtos duráveis mais que os descartáveis, para o local mais do que o global, para o uso compartilhado de produtos mais do que o individual, para o virtual mais do que o material, para o intangível mais do que o tangível, para a qualidade mais do que a quantidade, para o necessário substituindo o desperdício, para a moderação substituindo o excesso.
São mudanças profundas que exigem tempo e implicam em uma mudança de cultura, que, por definição, exigirá tempo da sociedade. Para isso, será preciso educar as crianças e os jovens para o consumo consciente e a sustentabilidade, como o Akatu já vem fazendo com o apoio da HP, e será preciso continuar a sensibilização e a mobilização dos adultos para esse novo modelo de consumo. Esse novo modelo deverá ser apreciado e valorizado pela sociedade, sob pena de não se manter a mudança necessária nos comportamentos de consumo.
O mero uso das tecnologias reforça a inércia dos hábitos atuais, à medida que elas permitem agir exatamente da mesma maneira em nosso consumo com menor uso de recursos naturais, energia e água. No entanto, dado que já consumimos hoje 35% a mais do que a Terra consegue renovar, e que 25% da humanidade consome mais do que o necessário, enquanto 75% consome o mínimo necessário ou abaixo desse mínimo, apenas a mudança no modelo de consumo permitirá a inclusão no mercado de consumo das enormes populações que a ele hoje não tem acesso.
Reproduzir os atuais padrões de consumo, usando tecnologias sustentáveis, não permitirá que o grande problema social de inclusão de toda a humanidade em um modo digno de vida possa ser resolvido. Talvez até mesmo se resolva a questão do aquecimento global, o que não parece provável, mas certamente o mundo se deparará com outros limites naturais e sociais. Melhor começar a mudança mais cedo e não mais tarde, conscientizando as pessoas para o poder e o impacto social e ambiental de seus atos de consumo, e buscando fazer com que um novo modelo de consumo seja gradualmente introduzido e valorizado pela sociedade. Um modelo onde se consome para viver e não se vive para consumir.
Naturalmente, dentro da linha trabalhada pelo Akatu, trata-se de introduzir a questão do poder contido nos atos individuais de consumo, que podemos ser e fazer a mudança de comportamentos para contribuir com a sustentabilidade da vida no planeta. Nesse sentido, é uma reflexão sobre o estilo de vida, sobre o espaço ocupado pelo consumo na vida contemporânea.
Estamos convencidos, no Akatu, de que não haverá sustentabilidade sem uma mudança no estilo de vida das sociedades expresso por mudanças nos comportamentos de consumo. Apenas as mudanças tecnológicas não serão suficientes para fazer frente ao tamanho da crise climática atual. No entanto, a questão do consumo praticamente não foi abordada nas reuniões da COP-15.
Naturalmente, não se esperava que o consumo fosse tratado nas salas de negociações, visto que ali as questões eram mais técnicas e específicas, envolvendo NAMAs, REDD, quanto os países do Anexo 1 deveriam ou não pagar aos países em desenvolvimento, metas de emissão para 2020, entre outros temas. Mas, mesmo nos eventos paralelos do Bella Center, local onde aconteceram as negociações, praticamente não se falou de consumo, que foi mencionado apenas em eventos específicos — por exemplo, onde se fazia a ligação entre desmatamento e consumo de carne. No entanto, tanto quanto pudemos perceber na lista dos eventos paralelos à COP-15, e mesmo nos Fóruns externos ao Bella Center, o consumo não foi abordado sob a perspectiva do indivíduo com capacidade de transformação de seu entorno.
Por outro lado, um tema exaustivamente abordado foi o das novas tecnologias mais sustentáveis, envolvendo desde novas formas de produção de energia e novas tecnologias de produção até sistemas para equipar uma casa sustentável.
Sem dúvida, as tecnologias podem contribuir no combate ao aquecimento global. O risco, no entanto, é de uma acomodação no sentido de se pensar que as novas tecnologias mais sustentáveis vão permitir manter o modelo de consumo atual. Ao pensar assim, esquecemos que as mudanças climáticas são um entre vários problemas ambientais que
tornam insustentável a sociedade atual, sem falar nos problemas sociais, econômicos e individuais.
Inovações tecnológicas são necessárias, mas não suficientes
Se, por um lado, é muito bom que se desenvolvam tecnologias mais sustentáveis, as mesmas devem ser tomadas como medidas de transição durante o processo de transição para um novo consumo, um consumo diferente, um novo estilo de vida, em que a sociedade como um todo deverá caminhar na direção dos produtos duráveis mais que os descartáveis, para o local mais do que o global, para o uso compartilhado de produtos mais do que o individual, para o virtual mais do que o material, para o intangível mais do que o tangível, para a qualidade mais do que a quantidade, para o necessário substituindo o desperdício, para a moderação substituindo o excesso.
São mudanças profundas que exigem tempo e implicam em uma mudança de cultura, que, por definição, exigirá tempo da sociedade. Para isso, será preciso educar as crianças e os jovens para o consumo consciente e a sustentabilidade, como o Akatu já vem fazendo com o apoio da HP, e será preciso continuar a sensibilização e a mobilização dos adultos para esse novo modelo de consumo. Esse novo modelo deverá ser apreciado e valorizado pela sociedade, sob pena de não se manter a mudança necessária nos comportamentos de consumo.
O mero uso das tecnologias reforça a inércia dos hábitos atuais, à medida que elas permitem agir exatamente da mesma maneira em nosso consumo com menor uso de recursos naturais, energia e água. No entanto, dado que já consumimos hoje 35% a mais do que a Terra consegue renovar, e que 25% da humanidade consome mais do que o necessário, enquanto 75% consome o mínimo necessário ou abaixo desse mínimo, apenas a mudança no modelo de consumo permitirá a inclusão no mercado de consumo das enormes populações que a ele hoje não tem acesso.
Reproduzir os atuais padrões de consumo, usando tecnologias sustentáveis, não permitirá que o grande problema social de inclusão de toda a humanidade em um modo digno de vida possa ser resolvido. Talvez até mesmo se resolva a questão do aquecimento global, o que não parece provável, mas certamente o mundo se deparará com outros limites naturais e sociais. Melhor começar a mudança mais cedo e não mais tarde, conscientizando as pessoas para o poder e o impacto social e ambiental de seus atos de consumo, e buscando fazer com que um novo modelo de consumo seja gradualmente introduzido e valorizado pela sociedade. Um modelo onde se consome para viver e não se vive para consumir.
Moradores urbanos causam desmatamento no século 21
Por: Scientific American Brasil
No mundo todo, aproximadamente 13 milhões de hectares de florestas perecem sob lâminas ou fogo todos os anos. Esse desmatamento há muito tempo vem sendo causado por fazendeiros que sobrevivem pormeio do corte e queima ou por madeireiros usando novas estradas para invadir florestas virgens. Mas novos dados parecem mostrar que, pelo menos nos primeiros cinco anos do século 21, os grandes blocos de clareiras, que refletem o desmatamento industrial, agora dominam, ao contrário dos esforços de pequena escala que deixam atrás de si faixas longas e estreitas de terra nua.
A geógrafa Ruth DeFries da Columbia University e seus colegas usam imagens de satélite do Landsat, junto com o instrumento Modis (Espectroradiômetro de Resolução Moderada de Imagens, em inglês) em Aqua para analisar o desmatamento nos países que circundam os trópicos, o que representa 98% de toda a floresta tropical remanescente. Em vez da clássica assinatura “espinha de peixe” do desmatamento causado por operações em pequena escala, grandes e densos blocos de terra nua revelam uma mudança nos agentes causadores da derrubada de árvores: grandes empresas atendendo à demanda urbana.
Na verdade, uma análise estatística de 41 países revelou que a taxa de perda de florestas tem uma ligação mais estreita com o crescimento da população urbana e com exportações agrícolas de 2000 a 2005 – nem mesmo o crescimento total da população foi um agente tão forte nesse quesito. “Nas décadas passadas, o desmatamento esteve associado com colonização planejada, projetos de reassentamento e fazendeiros locais limpando a terra para conseguir alimentos para subsistência”, afirma DeFries. “O que estamos observando é uma mudança: antes eram os fazendeiros de pequena escala que causavam o desmatamento e, agora, os maiores agentes causadores são as distantes demandas do crescimento urbano, comércio agrícola e exportações.”
Em outras palavras, a crescente urbanização dos países em desenvolvimento – bem como um aumento constante no consumo, nos países desenvolvidos, de produtos que têm impacto em florestas, sejam móveis, couro para sapatos ou frangos alimentados com farelo de soja – está causando o desmatamento, mais do que contendo o mesmo, conforme a população deixa as áreas rurais para se concentrar nas cidades em crescimento. “Uma das características mais marcantes deste século é a urbanização e o rápido crescimento urbano dos países em desenvolvimento. As pessoas nas cidades precisam comer.”
“Não é surpresa nenhuma”, observa Scott Poynton, diretor executivo do Tropical Forest Trust, organização com base na Suíça que ajuda homens de negócios a implementar e gerenciar silviculturas sustentáveis em países como Brasil, Congo e Indonésia. “O problema não são pessoas pobres cortando árvores. O problema são as pessoas em Nova York, na Europa e em outros lugares querendo produtos baratos, principalmente comida”.
Para ajudar a sustentar essa crescente demanda urbana e global, a produtividade agrícola terá que ser aumentada em terras que já foram limpas, como muitas terras degradadas e abandonadas dos trópicos, argumenta DeFries, seja por meio de melhores variedades de cultura ou melhores técnicas de administração. E o Tropical Forest Trust está criando melhores sistemas de gerenciamento para evitar que a madeira retirada ilegalmente acabe em, por exemplo, espreguiçadeiras, bem como expandindo seus esforços para ver como reduzir as “pegadas na floresta” dos produtos agrícolas, como o óleo de palma. “É nas coisas agrícolas que o desmatamento ocorre”, afirma Poynton. “A idéia é dar valor às florestas enquanto florestas: mantê-las como florestas e dar-lhes uso dessa forma. Não vão transformá-las em Parques Nacionais, isso simplesmente não vai acontecer”.
É claro que o desmatamento florestal permitiu que florestas crescessem novamente em outras áreas, incluindo terras tropicais anteriormente limpas. E o desmatamento florestal na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, caiu de cerca de 1,9 milhão de hectares por ano na década de 1990 para 1,6 milhão de hectares por ano na última década, de acordo com o governo brasileiro. “Nós sabemos que a velocidade de desmatamento diminuiu pelo menos na Amazônia brasileira desde a época dos dados do nosso estudo”, observa DeFries. “Observamos 41 países. Cada lugar é diferente. Cada país tem sua própria situação, circunstâncias e agentes causadores”.
Apesar disso, o desmatamento é uma das maiores causas das emissões de gases causadores do efeito estufa gerados pela atividade humana – um golpe duplo, que tanto elimina um sistema biológico que absorve CO2 quanto cria uma nova fonte de gases estufa na forma de plantas em decomposição. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estima que retardar esse desmatamento poderia recuperar cerca de 50 bilhões de toneladas métricas de CO2, ou mais de um ano de emissões globais. Além disso, as negociações internacionais continuam a tentar conseguir um sistema para atingir esse objetivo, conhecido como fundo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento para reduzir emissões causadas pelo desmatamento e por degradação florestal em países em desenvolvimento (REDD, na sigla em inglês).
“Se é para políticas [como o REDD] serem eficientes, precisamos entender o que está comandando as forças por trás do desmatamento”, comenta DeFries, e há novas pressões iminentes. “A competição para usar terras para outros produtos, como biocombustíveis, aumentará ainda mais a pressão sobre as florestas tropicais”, escreveram os pesquisadores. Mas, de acordo com uma nova análise, milhões de hectares de floresta virgem permanecem potencialmente a salvo– 60% das florestas tropicais restantes estão em países ou áreas com pouco comércio agrícola ou crescimento urbano.
“A quantidade de áreas florestais em locais como a África central, Guiana e Suriname”, nota DeFries, é enorme. “Há muitas florestas que ainda não encontraram esse tipo de pressão.”
LHC promove as primeiras colisões de partículas "de laboratório" da história
Por: G1 - Ciência e Saúde
Cientistas anunciaram ter conseguido nesta terça-feira, dia 30 de março, às 8h06 (hora de Brasília), pela primeira vez, a colisão de feixes de prótons no acelerador gigante de partículas LHC. “Muitas pessoas esperaram muito tempo por este momento, mas sua paciência e dedicação está começando a render dividendos", comemorou Rolf Heuer, diretor-geral da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês, a instituição responsável pelo LHC).
O maior experimento científico do mundo consiste em colidir partículas no nível mais alto de energia já tentado, recriando as condições presentes no momento do Big Bang, que teria marcado o nascimento do universo, 13,7 bilhões de anos atrás.
O Grande Colisor de Hádrons (LHC), situado em um túnel subterrâneo circular de 27 quilômetros de extensão sob a fronteiro franco-suíça, começou a circular partículas em novembro passado, depois de ser fechado em setembro de 2008 por causa de superaquecimento.
A experiência teve sucesso depois de duas tentativas frustradas durante a madrugada. De acordo com os pesquisadores, ela abre portas para uma nova fase da física moderna, ajudando a responder muitas perguntas sobre a origem do universo e da matéria.
As colisões múltiplas a uma energia recorde (7 TeV, ou 7 trilhões de eletronvolts) criam "Big Bangs em miniatura", produzindo dados que milhares de cientistas passarão anos futuros analisando.
Acelerar prótons a 7 trilhões de eletronvolts significa que eles correm a 99,99% a velocidade da luz (cerca de 300 mil km por segundo), ou 11 mil voltas por segundo no megatúnel de 27 km.
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