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Roberto Santos



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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Atualidades

Mineiros do Chile

O resgate que emocionou o mundo

No dia 5 de agosto, um desmoronamento deixou 33 operários presos na mina de San José, situada no deserto do Atacama, no Chile . Eles ficaram incomunicáveis, a 700 metros de profundidade, durante 17 dias, até serem descobertos pelas equipes de sondagem.

Começou, então, a ser planejada uma operação de resgate, inédita em tais condições, prevista para durar até quatro meses. Entre os dias 12 e 13 de outubro, 70 dias após o acidente, todos os mineiros foram resgatados com vida.

Da galeria onde estavam confinados, os operários enviavam vídeos em que demonstravam otimismo e organização. Eles cantavam o hino nacional chileno e mandavam mensagens para os familiares, que aguardavam acampados no terreno da mineradora. O resgate foi transmitido ao vivo pela internet e por canais de televisões de todo o mundo.
O presidente do Chile, Sebastián Piñera , em meio a uma crise de popularidade, assumiu o compromisso de salvar todos os trabalhadores presos. Ele acompanhou os trabalhos no local e recebeu os mineiros que, um a um, eram retirados de dentro de uma cápsula metálica usada para fazer o salvamento.
A eficácia do governo e a lição de solidariedade dos chilenos contribuíram para compor uma imagem positiva do país. Até então, o Chile era lembrado, principalmente, pela ditadura de Augusto Pinochet , uma das mais violentas na América Latina.
O acidente na mina de San José também chamou atenção para os riscos da falta de segurança nas mineradoras. O minério é uma das principais riquezas do Chile. A mineração corresponde a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) e um terço de todo o cobre do mundo é proveniente do país. A tecnologia empregada no salvamento servirá agora de modelo para futuros resgates.

Sobrevivência

O período de 17 dias de isolamento foi o mais difícil para os 33 operários presos na mina. Para sobreviver, eles consumiam apenas duas colheres de atum em lata e meio copo de leite por dia. A água era retirada de máquinas de refrigeração e eles dormiam espalhados em túneis.
No refúgio de 52 metros quadrados, a temperatura era de 35 graus e a umidade do ar atingia 85%. Havia pouca ventilação, poeira e ausência de luz solar. Neste ambiente insalubre, eram grandes os riscos dos mineiros contraírem infecções e doenças respiratórias.
Além disso, não se sabia o que poderia acontecer com um ser humano submetido a um período prolongado de confinamento em grupo. Eles poderiam sofrer estresse e depressão. Os efeitos só haviam antes sido estudados em astronautas em missões espaciais. Por isso, o governo chileno contou com apoio de especialistas da Nasa, a agência espacial americana.
Depois que foram descobertos no abrigo, os trabalhadores receberam alimentos, água e medicamentos por três sondas de oito centímetros de diâmetro. Eles também podiam se comunicar com familiares e serem avaliados por equipes de médicos e psicólogos.
Resgate

Pela quantidade de pessoas, tempo de clausura e profundidade (comparável à altura de duas torres Eiffel ), o resgate no Chile foi inédito no mundo. A solução escolhida para salvar os funcionários foi construir cápsulas de metal, que seriam inseridas na mina através de dutos.

Modelos de cápsulas foram usados em pelo menos duas outras ocasiões, na Alemanha : no salvamento de três mineiros em 1955, presos a 855 metros de profundidade, e em 1963, quando outros 11 foram resgatados a 58 metros abaixo do solo.
As cápsulas chilenas, porém, eram mais sofisticadas. Elas tinham rádio-comunicador, cinto biométrico (que monitora as funções vitais) e tubos de oxigênio . Foram construídas três cápsulas de 58 centímetros de diâmetro, batizadas de Fênix: uma usada para teste, uma reserva e a que fez a retirada dos homens.
O primeiro mineiro a ser retirado, Florencio Ávalos, saiu por volta das 0h10 do dia 13 de outubro. Em 21 horas e 44 minutos, todos os demais foram salvos. Mesmo os que saíram à noite tiveram que usar óculos escuros para não causar danos às vistas, privadas de luz por tanto tempo.
A operação foi acompanhada pela TV e pela internet por cerca de um bilhão de pessoas no planeta. Mil e quinhentos jornalistas de 33 países cobriram o evento. A movimentação aqueceu o mercado na cidade mais próxima, Copiapó, e a fama está "engordando" as contas bancárias dos familiares dos mineiros.
Heróis

Os 33 mineiros se tornaram conhecidos mundialmente e foram considerados heróis no Chile. Eles receberam prêmios, viagens, ofertas de trabalho e venderam direitos de entrevistas exclusivas e a publicação de suas histórias em livro. Para isso, fizeram um pacto de não revelar detalhes do confinamento. Dificilmente irão voltar a exercer a antiga profissão.
A mina San José foi fechada pelo governo e os bens da mineradora foram bloqueados na Justiça. Cerca de 300 funcionários trabalhavam no local. As famílias pedem indenizações de US$ 12 milhões e o governo quer que a mineradora arque com parte das despesas da operação de resgate, de custo estimado em US$ 20 milhões.
Em 2007, um trabalhador morreu no mesmo local e a mina ficou interditada por um ano. Depois do último acidente, o governo prometeu aumentar a fiscalização no setor e revisar padrões de segurança na indústria mineradora do país.
Após o resgate no Chile, ocorreram outros três acidentes em minas na China, Equador e Colômbia. No caso mais grave, 37 mineiros morreram numa mina de carvão em Yuzhou, na província de Henan, no centro da China .. A mineração no país é considerada a mais arriscada do mundo, com o registro de 2,6 mil mortes desde 2009.
No Equador, outro desmoronamento matou quatro mineiros a 150 metros de profundidade em Portovelo, na província de El Oro, próximo à fronteira com o Peru. Na Colômbia, dois operários foram soterrados a 60 metros na mina de carvão La Esperanza, no departamento de Boyacá.



70 anos de John Lennon

O legado do ex-Beatle


Na noite do dia 8 de dezembro de 1980, John Lennon voltava para casa acompanhado da mulher, Yoko Ono. Na entrada do edifício Dakota, em Nova York, onde o casal morava, um homem o chamou: "Sr. Lennon!". Antes que pudesse se virar, foi atingido por quatro disparos de revólver calibre 38 e caiu sangrando na portaria do prédio.
O autor dos disparos era o ex-segurança Mark David Chapman, de 25 anos, que cumpre pena de prisão perpétua. Seis horas antes, ele havia conseguido um autógrafo do músico na capa do disco "Double Fantasy", o último da carreira de Lennon. Nas mãos, além da arma, Chapman trazia um exemplar de "O Apanhador no Campo de Centeio", livro de J. D. Salinger que, assim como o ex-Beatle, virou símbolo de uma era.
Se estivesse vivo, John Lennon teria completado 70 anos no último dia 9 de outubro. Em dezembro, serão 30 anos da morte do músico. Mesmo após a morte, ele continua sendo um sucesso comercial e uma personalidade que influencia gerações.
O assassinato de Lennon marcou o fim de uma época de idealismo, contestação política, experimentação com drogas, misticismo oriental e liberação sexual. Um período que teve outros "mártires", como Jimi Hendrix e Janis Joplin , mas nenhum tão emblemático quanto ele.
Em apenas duas décadas, Lennon viveu o melhor e o pior da fama. Nos anos 1960, era o mais talentoso dos Beatles, um rapaz alegre e irônico que ditava a moda e o comportamento da geração "paz e amor". Nos anos 1970, já casado com a artista plástica japonesa Yoko Ono, engajou-se em campanhas pacifistas e se envolveu em polêmicas. Nos últimos anos de vida, era um pacato pai de família.
Garotos de Liverpool

John Winston Lennon nasceu em 9 de outubro de 1940 em Liverpool, cidade portuária da Inglaterra. Era a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a cidade sofria com os bombardeios nazistas. O nome do meio era uma homenagem a Winston Churchill , primeiro-ministro durante a guerra.
John era filho de um marinheiro, Alfred, que abandonou a família quando ele tinha 4 anos de idade. A mãe, Julia, deixou o menino aos cuidados da irmã para viver com outro homem. O jovem só reencontraria a mãe anos mais tarde, em 1952, quando ganhou dela sua primeira guitarra. Mas a companhia durou pouco: Julia morreu atropelada em 1958.
Dois anos antes, Lennon conheceu seu futuro parceiro musical, James Paul McCartney . Paul era dois anos mais novo, vinha também de uma família de classe média e a mãe havia morrido de câncer quando ele tinha 14 anos. Além das tragédias familiares, os dois tinham em comum o gosto pela música.
Eles tocavam juntos numa banda criada em 1956, chamada Quarrymen - nome inspirado na escola que frequentavam, a Quarry Bank High School. Mais tarde, George Harrison (morto em 2001) se juntaria ao grupo. A banda tocava em bares e fazia pequenas turnês pela Europa.
Em 1960, o nome do grupo foi mudado para The Beatles (Os Besouros), em homenagem à banda de Buddy Holly, The Crickets (Os Grilos). No ano seguinte, os rapazes foram vistos no famoso bar Cavern Club pelo empresário Brian Epstein, que os levou a assinarem os primeiros contratos de gravação.
Antes de gravarem os primeiros sucessos, o baixista da banda, Stuart Sutcliffe, deixou o grupo para se casar e se dedicar à pintura. E outro integrante, o baterista, foi substituído por Richard Starkey Jr., ou Ringo Starr , completando a formação dos Beatles, com John Lennon e George Harrison nas guitarras e Paul McCartney no baixo.
Entre 1962 e 1963, os Beatles lançaram seus primeiros compactos e álbum, alcançando enorme sucesso na Inglaterra e Estados Unidos. Em apenas oito anos eles reescreveram a história da indústria e da cultura da música pop internacional. Ficaram famosos no mundo inteiro - mais do que Jesus Cristo, numa das controversas frases de John - e receberam da rainha Elizabeth a Ordem do Império Britânico, uma condecoração tradicional.
Depois da morte do empresário, em 1967, Paul McCartney tentou assumir os negócios da banda, dando início às desavenças. O grupo se dissolveu em 1970, deixando 13 discos com músicas que inspiram milhares de pessoas no mundo todo.
Paz e amor

Para os críticos, outro motivo da separação dos Beatles foi a influência de Yoko Ono na vida de John Lennon. Eles se conheceram em 1966. O ex-Beatle era casado com Cynthia Powell e tinha um filho, Julian Lennon. Dois anos depois, começaram um relacionamento amoroso que provocou o divórcio do músico.
De certo modo, Yoko ajudou-o a se livrar de dois casamentos que o deixavam frustrado, um com a mulher e outro com os Beatles. Ao lado de Yoko, Lennon fez uma bem sucedida carreira solo como músico e ativista político.
Ficaram famosos os "bed ins", coletivas de imprensa em cama de hotéis, promovidos pelo casal em campanhas contra as guerras. Lennon gravou duas músicas que se tornaram símbolo do pacifismo, "Give Peace a Chance" ("Dê uma chance à paz") e "Imagine", cujos versos diziam "Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz".
Por sua atuação política, o casal foi vigiado pelo FBI, a polícia federal americana. Eles também foram presos com drogas e ameaçados de expulsão dos Estados Unidos.
Após o nascimento de Sean Lennon, em 1975, Lennon abandonou a profissão para se dedicar à família. Ele só rompeu o autoexílio cinco anos depois, para gravar o último disco, poucos meses antes de ser assassinado.
Neste ano, as comemorações vêm acompanhadas por uma nova onda de popularidade de John Lennon. Elas incluem o relançamento dos álbuns e o licenciamento para diversos produtos, entre eles uma caneta Montblanc enfeitada com pedras preciosas e o uso da imagem do ex-Beatle para vender até carro. Detentora dos direitos autorais de Lennon, Yoko Ono se defende dizendo que essa é a melhor maneira de manter viva a memória do marido. Discussões à parte, o fato é que John Lennon está mais vivo do que nunca.




Reunificação da Alemanha

Vinte anos depois, diferenças ainda dividem o país


Durante quase três décadas, a Alemanha viveu uma condição tão surreal que parecia digna de roteiro dos filmes alemães dos anos 1920, como O Gabinete do Dr. Caligari ou Nosferatu. Após os nazistas perderem a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o país foi dividido em dois, com nomes, bandeiras, moedas, hinos, tudo diferente.
E, pior, quem estava de um lado da fronteira não podia atravessar para o outro para rever os parentes ou amigos. Os alemães do lado Leste, o "primo pobre", eram impedidos de sair por um muro de 155 km de extensão que cortava a capital, Berlim, ao meio.
O lado Oeste, rico e democrático, recuperou-se do fim da guerra, mas no outro, a situação ficou bem diferente. Faltavam artigos de primeira necessidade e o povo era oprimido por uma das polícias secretas mais eficientes do mundo, a Stasi.
A queda do Muro de Berlim (construído em 1961 e derrubado em novembro de 1989) foi um dos maiores eventos do século 20. Em uma noite, os alemães derrubaram o muro que cindia o país em dois, dando fim à Guerra Fria e início à queda dos regimes comunistas no Leste Europeu e ao mundo globalizado.
Onze meses depois, em 3 de outubro de 1990, ocorreu a reunificação da Alemanha, por meio de acordos. Nesta data, a antiga República Democrática Alemã (RDA), ou Alemanha Oriental, foi dissolvida e o território anexado à República Federal da Alemanha (RFA), ou Alemanha Ocidental, pondo fim à divisão do país.
Nascia, ali, a maior potência econômica da Europa, que, apesar disso, ainda luta para se reconciliar com o passado. Após 20 anos, a Alemanha permanece dividida econômica, social e politicamente. O Leste, da antiga RDA, continua defasado em relação ao Oeste, o que mostra que o processo de reunificação ainda não terminou.
Império Alemão

A Alemanha não existia antes de 1871. Após a derrota do imperador francês Napoleão Bonaparte , em 1815, o antigo Sacro Império Romano-Germânico foi dividido pelo Congresso de Viena em 39 Estados soberanos.
Em comum, esses povos compartilhavam a mesma raiz cultural e língua alemã, além da economia predominantemente agrária e política feudal. Os reinos dominantes eram a Prússia, governada pelos Hohenzollern, e a Áustria, dos Habsburgos.
A primeira tentativa de unificação dos reinos aconteceu em 1848. Neste ano, ocorreram revoltas populares por toda a Europa contra as monarquias absolutistas. Contudo, os monarcas da Prússia e da Áustria conseguiram se manter por mais tempo no poder, adiando a unificação.
Nos anos seguintes, foi o próprio governo da Prússia, mais desenvolvida e industrializada que a Áustria, que liderou o movimento de unificação. Para isso, foi fundamental o apoio de setores da burguesia.
Quando o rei Guilherme 1º assumiu o trono, em 1862, ele nomeou o primeiro-ministro Otto von Bismarck para iniciar o processo. Mas foram necessárias três guerras contra a Dinamarca, Áustria e França, ao fim das quais, em janeiro de 1871, Guilherme I foi coroado primeiro kaiser (imperador) do Império alemão (1871-1918).
O império unificou a Alemanha em um Estado moderno, como exceção da Áustria. Seguiu-se um período de expansão colonialista e crescimento econômico, que terminou com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Derrotada na guerra, a Alemanha sofreu uma revolução que depôs o imperador Guilherme II e proclamou a República de Weimar (1919-1933).
Porém, a situação do país era precária no pós-guerra, principalmente pelas condições impostas pelo Tratado de Versalhes. O ambiente, por outro lado, era propício para inflamar o sentimento nacionalista dos alemães, e, assim, levar ao poder o partido nazista de Adolf Hitler , que desencadearia a Segunda Guerra Mundial.
Muro de Berlim

O fim da segunda guerra, mais uma vez, deixou a Alemanha derrotada e em ruínas. Em 1949, a nação foi dividida em duas áreas de regimes políticos e econômicos diferentes. O lado ocidental era controlado pelos Aliados, enquanto o lado oriental ficou com a antiga União Soviética. Berlim, a capital, também tinha seu lado ocidental e oriental.
Logo as divergências sociais entre as duas Alemanhas se tornaram evidentes. O Oeste capitalista progredia, ao passo que no Leste havia escassez de produtos e liberdade. Por isso, eram constantes as fugas de alemães para a parte ocidental.
Para conter as fugas foi construído, em 13 de agosto de 1961, um muro dividindo o país, transformando a RDA numa prisão para 17 milhões de alemães.
Já ao final dos anos 1980, a situação dos regimes comunistas era insustentável no Leste Europeu. Prevendo isso, o líder soviético Mikhail Gorbatchev (1985-1991) iniciou duas reformas, uma política (a glasnost), e outra econômica (a perestroika). As duas juntas levaram à dissolução da União Soviética em 1991.
Sem o apoio militar dos soviéticos para conter as revoluções, os governos comunistas na Europa começaram a cair um por um. Primeiro a Polônia, por meio de eleições gerais em 1988. No ano seguinte foi a vez da Hungria, com uma abertura promovida pelo próprio governo.
Com as fronteiras sendo abertas aos poucos, ficou impossível para a Alemanha Oriental sustentar o muro por mais tempo. Os protestos cresciam por todo país, até que, finalmente na noite de 9 de novembro de 1989, o muro veio abaixo.
Dissolução

No ano seguinte, em 18 de março, foram realizadas as primeiras eleições livres na RDA, com o tema da reunificação dominando os debates. A essa altura, o país já se esfacelava, o que obrigou o governo a fazer uma equiparação monetária, tornando o marco a moeda oficial também no Leste.
Foram assinados dois tratados antes da reunificação: um entre as Alemanhas e outro com as potências estrangeiras de ocupação, o Tratado "2 + 4", que devolvia ao país sua soberania. Em 3 de outubro de 1990, após votação na Câmara Popular, o governo da RDA reconheceu a dissolução do país e sua integração à República Federal da Alemanha.
Depois das comemorações, os alemães começaram a enfrentar as dificuldades. Era preciso integrar a população do lado oriental, que, sem qualificação, não conseguia emprego ou bons salários. Outro problema foi a ascensão de grupos neonazistas.
Hoje, o lado Leste ainda é mais pobre que o Oeste. De acordo com o governo, a renda anual per capta dos alemães da antiga RDA é quase 5 mil euros (R$ 11.550) menor. As taxas de desemprego também são maiores e os indicadores sociais, piores no antigo lado comunista. E mesmo a representação política no Leste, que possui um quinto da população, é menos expressiva. A sensação é de que a reunificação ainda não se completou.




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Roberto Santos

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Notícias

Campanha 2010



Escândalos políticos e marasmo dão o tom


Fonte: UOL




As eleições gerais do próximo dia 3 de outubro serão as maiores da história do país. Um total de 135 milhões de brasileiros irá às urnas escolher entre mais de 20 mil candidatos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os políticos concorrem a cargos de presidente da República, governador, senador e deputados estadual, federal e distrital.

A despeito da importância, a campanha eleitoral foi marcada pelo marasmo, com pouca empolgação dos eleitores e sem debates políticos em torno de propostas detalhadas de governo. O clima só mudou nos bastidores, com denúncias de escândalos de corrupção e com o destaque para candidatos folclóricos que disputam uma vaga no Congresso.



Para as vagas do Luiz Inácio Lula da Silva.

Também serão escolhidos os ocupantes do Poder Legislativo. O Senado Federal é composto por 81 parlamentares com mandato de oito anos e direito a reeleições sem limites. Cada Estado tem direito a três representantes.

Um terço das cadeiras é renovado numa eleição e os outros dois terços, quatro anos depois. Em 2006 foram escolhidos 27 senadores e, este ano, portanto, serão 54 - dois para cada Estado e mais Distrito Federal. Em São Paulo, por exemplo, os senadores Aloizio Mercadante (PT) e Romeu Tuma (PTB) terminam o mandato este ano, enquanto o de Eduardo Suplicy (PT) vai até 2014.

Para o Senado, vigora o chamado sistema majoritário, em que vencem os candidatos que obtiverem mais votos (o mesmo sistema válido para presidente e governadores).

Na Câmara dos Deputados, cada Estado possui um número de cadeiras proporcional à sua população. São 513 deputados federais que cumprem mandato de quatro anos e também podem se reeleger sem limites. Há um número mínimo de oito (Distrito Federal, Roraima, Acre e Sergipe, entre outros) e um máximo de 70 parlamentares (São Paulo) para cada Estado.

A escolha segue o sistema de proporcionalidade, o mesmo válido para os deputados estaduais de 26 Assembleias Legislativas e da Câmara Legislativa do Distrito Federal (total de 1.057 cadeiras).

A proporcionalidade funciona por meio do cálculo do total de votos recebidos divido pelo número de vagas no Estado, obtendo-se o quociente eleitoral. Se um Estado tiver 1 milhão de votos e houver 10 vagas, o quociente será 100 mil. Este será, consequentemente, o número mínimo de votos que um partido ou coligação terá que atingir para eleger um deputado. Se um partido obtiver 200 mil votos, por exemplo, ele irá eleger dois parlamentares, que serão os dois mais votados da legenda.

Presidenciáveis



As próximas eleições serão, também, as primeiras sem a participação do presidente Lula desde 1989. Nesta data foi realizada a primeira eleição direta para presidente desde o golpe militar de 1964. A votação terminou com a vitória, no segundo turno, do presidente Fernando Collor de Mello, que sofreria impeachment dois anos após iniciar o mandato.



Mesmo com a estabilidade econômica e melhoria nos indicadores sociais, o próximo presidente terá importantes desafios pelo frente. O país ainda possui graves distorções sociais e regionais que são um entrave para o desenvolvimento. Um dos números mais representativos do atraso, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que apenas 59% dos domicílios brasileiros possui rede de esgoto ou fossa séptica. Isso agrava problemas ambientais e de saúde pública.

Porém, as eleições presidenciais deste ano são as mais desestimulantes desde a redemocratização do Brasil, segundo especialistas. Ela ficou mais uma vez polarizada entre candidatos de dois partidos: Dilma Rousseff (PT), que conta com 50% das intenções de votos, e José Serra (PSDB), com 27%. A terceira colocada é a candidata Marina Silva (PV), com 13% das intenções de votos, de acordo com pesquisas mais recentes.

Amparada pela popularidade recorde de quase 80% do presidente, Dilma Rousseff pode ser eleita já no primeiro turno. Os candidatos, no entanto, apresentam discursos semelhantes e, com isso, praticamente esvaziam o debate, de onde estão ausentes propostas conflitantes ou temas polêmicos.

Soma-se a isso o fato de nenhum deles ter apresentado programas de governo detalhados, isto é, especificando como conseguirão realizar todas as promessas de campanha.

A campanha só "esquentou" com denúncias de corrupção no governo. O primeiro caso foi a quebra de sigilo fiscal da filha de José Serra (PSDB), supostamente por adversários políticos com intenções eleitorais. Outra foi de um suposto esquema de tráfico de influência envolvendo a família da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, sucessora de Dilma, e os Correios.

Já na reta final, ocorreram novos embates entre o Governo Federal e a imprensa. Criticado por atuar como "cabo eleitoral" e usar a máquina pública para eleger sua sucessora, Lula reclamou da cobertura tendenciosa dos meios de comunicação. As empresas de comunicação reagiram, apontando uma tendência de censura, em voga atualmente em países como Venezuela e Argentina.

Palhaço



As eleições de outubro serão importantes também porque devem renovar as Casas legislativas, responsáveis por propor leis, aprovar orçamentos e fiscalizar os atos do Executivo.

O grande destaque ficou por conta da aprovação da lei da Ficha Limpa. A lei proíbe a candidatura de políticos que tenham sido condenados ou que tenham renunciado para evitar processo de cassação. O projeto foi aprovado em 19 de maio no Senado, mas ficou a dúvida a respeito de se valeria já para estas eleições ou somente a partir das próximas. O impasse deverá ser decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mas, mesmo assim, a lei já serviu para dar ao eleitor mais um instrumento de fiscalização e de "filtro" de candidaturas.

O lado negativo das eleições do Legislativo deste ano foi a "explosão" de candidatos folclóricos, cujo maior representante é o palhaço Tiririca, candidato a deputado federal pelo PR. Com uma atitude debochada e a suspeita de que seja analfabeto (o que anularia sua candidatura), ele pode ser o parlamentar mais votado no país, segundo pesquisas de intenção de voto.

Tiririca representa uma tradição brasileira de expressar o descontentamento com a política votando em figuras caricatas. Até os anos 1980, fizeram sucesso os votos nulos para o rinoceronte Cacareco (1958) e o Macaco Tião (1988). Com a substituição das cédulas de papel por urnas eletrônicas, a partir de 1996, surgiram os candidatos folclóricos, como Enéas Carneiro (conhecido pelo bordão "Meu nome é Enéas!") e artistas como Clodovil e Frank Aguiar.


Para os partidos, candidatos famosos são chamarizes de votos para a legenda. Para a população, infelizmente, na maior parte das vezes resultam em piora na qualidade do Congresso.


 
Entenda por que as eleições no Brasil importam no cenário internacional



Fonte: BBC Brasil



Uma democracia gigante, com 135 milhões de eleitores, e com um sistema de votação elogiado internacionalmente, o Brasil deverá atrair a atenção mundial durante a escolha de seu próximo presidente, no dia 3 de outubro.

O interesse pelo pleito, no entanto, vai além de uma simples curiosidade pelo processo eleitoral do país: o mundo quer saber quem governará uma nação de economia ascendente e com um papel geopolítico cada vez mais forte.

Por outro lado, a maior projeção do país também chama a atenção internacional para questões internas – e muitas vezes nem tão positivas, como a violência e a pobreza.

As preparações para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016, além da exploração das reservas do pré-sal, completam o quadro de um país que tende a estar com sua imagem cada vez mais exposta à comunidade internacional.


Veja os principais motivos que levam as eleições brasileiras a serem alvo de atenção internacional.


Economia



Poucos países deixaram a crise financeira internacional para trás de forma tão rápida quanto o Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer perto de 7,5% este ano, após uma retração de 0,2% em 2009 – resultado que, apesar de negativo, ficou acima da média, considerando as principais economias do mundo.


Mas não é só a rápida recuperação que vem animando investidores estrangeiros. Com um crescimento médio de 4,8% de 2002 a 2008, o Brasil tem conseguido aliar expansão econômica com inflação sob controle.


O resultado é uma crescente classe média com apetite para o consumo, que tem sido o principal motor da economia do país. Somente no 1º semestre deste ano, a demanda interna cresceu 8% em relação ao mesmo período do ano anterior.


Mas o próximo governo também terá desafios: a taxa de juros do país, descontada a inflação, é uma das maiores do mundo. A carga tributária chega a 36% do PIB, a maior da América Latina, e o país investe pouco, o equivalente a 17,9% do PIB – quando na China e na Índia chega-se a 43% e 34%, respectivamente.


Mas o ambiente macroeconômico favorável, somado a projetos vultosos (dentre eles a exploração de petróleo em camadas profundas e a realização da Copa do Mundo em 2014) deixam os investidores otimistas quanto ao Brasil. Muitos deles, inclusive, já veem o país entre as cinco maiores economias do mundo em um prazo de 15 anos.


Papel geopolítico crescente



Os defensores da diplomacia brasileira costumam dizer que o Brasil “mudou seu patamar” nas relações internacionais e que não existe mais “mesa” em que o país não esteja representado.


Ainda que essa maior participação seja motivo de controvérsia entre os especialistas, o fato é o que o Brasil vem se tornando cada vez mais atuante em determinados fóruns internacionais, sobretudo quando o assunto é economia e meio ambiente.


Um exemplo desse novo papel geopolítico está na participação do país no G20 financeiro, que ganhou destaque em função da crise internacional de 2008.


O Brasil tem sido uma das principais vozes dentre os emergentes em busca de uma nova ordem econômica mundial, com maior peso para esses países em organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.


Dono da maior floresta tropical do mundo e grande usuário de energia limpa, o Brasil também se tornou presença constante nas discussões sobre mudança do clima no âmbito das Nações Unidas.


Em novembro do ano passado, o país figurou, ao lado de Estados Unidos, União Europeia, China, Índia e África do Sul, entre os principais negociadores da reunião de Copenhague sobre mudanças climáticas.


Os mais críticos, no entanto, argumentam que, apesar dessa maior participação, o país está longe de alcançar resultados concretos, já que o sistema internacional continua sendo conduzido pelas grandes potências.


Política externa mais agressiva



Não é apenas nos fóruns internacionais que o Brasil tem tido papel mais agressivo: a política externa bilateral também se acentuou nos últimos anos, com maior destaque para as relações Sul-Sul.


De olho em uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, o país vem buscando um maior alinhamento com governos de regiões até então pouco exploradas pelo Itamaraty, caso da África e do Oriente Médio.


Recentemente, o Brasil atraiu os holofotes internacionais ao intermediar, junto com a Turquia, um acordo nuclear com o Irã, gerando certa insatisfação no governo americano.


Ao mesmo tempo em que é saudada pela diplomacia brasileira, a aproximação com o governo de Mahmoud Ahmadinejad tem gerado uma série de críticas a Brasília, que não estaria usando sua influência junto ao país persa para tentar atenuar supostos abusos em direitos humanos.


O aprofundamento das relações com países africanos também tem sido uma importante marca da diplomacia brasileira, interessada não apenas em ampliar seu leque de aliados políticos, mas também diversificar suas opções de investimento no exterior.


Por outro lado, alguns analistas costumam apontar um certo “excesso” nas pretensões brasileiras. O argumento é de que a diplomacia brasileira estaria colocando a ideologia política à frente dos interesses econômicos e comerciais do país.


População



Com uma população de 191 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto maior do mundo nessa categoria, atrás apenas de China, Índia, Estados Unidos e Indonésia.


Considerando a taxa média de fecundidade entre 2002 e 2006, que foi de 1,5 filho por mulher, o Brasil chegará ao ano de 2020 com uma população de 207 milhões de pessoas, segundo estimativas.


Apesar da tendência de queda, a parcela dos jovens no país ainda é expressiva: cerca de 32,8% da população é formada por pessoas com até 19 anos de idade. Há dez anos, porém, essa mesma parcela era de 40%.


Esse crescimento impõe uma série de desafios ao país, dentre eles uma melhor estrutura em transporte e moradia. De acordo com a ONU, o Brasil tem 55 milhões de pessoas vivendo em favelas ou em outros tipos de moradias inadequadas.


Agricultura e pecuária



Se por um lado o Brasil ainda deixa a desejar quando o assunto é a produtividade na indústria, o mesmo não se pode dizer do campo: o país é um dos maior produtores de alimentos do mundo e ainda tem um alto potencial de expansão.


Nos últimos dez anos, a produção total de alimentos saiu de 80 milhões de toneladas para quase 150 milhões – um crescimento de 87%. O país é o maior exportador mundial de suco de laranja, açúcar, frango, carne bovina e café, além de ser o segundo maior em soja.


Diante do crescimento da população mundial e da necessidade de abastecer um maior número de pessoas com uma dieta cada vez mais diferenciada, alguns especialistas têm apontado o Brasil como “celeiro” do mundo.


O apelido leva em consideração não apenas o que o país produz e exporta atualmente, mas principalmente seu potencial de expansão: segundo as Nações Unidas, o Brasil tem 50 milhões de hectares de terra sob cultivo e outros 300 milhões de hectares aráveis, mais do que qualquer outro país.


Mas apesar do espaço “de sobra”, a expansão do cultivo deverá esbarrar em alguns desafios, como a qualidade de vida no campo e a pressão sobre áreas protegidas.


Para muitos ambientalistas, uma possível alta nos preços das commodities, somada a uma fiscalização ineficiente, podem colocar em risco os biomas da Amazônia e do Cerrado.


Desafios sociais



O Brasil vem conseguindo melhorar seus principais indicadores sociais nos últimos anos, muitas vezes em consequência do crescimento econômico e de uma inflação sob controle.


De 2003 a 2008, cerca de 32 milhões de brasileiros deixaram as classes D e E, ingressando nas classes A, B e C, segundo estimativas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).


No que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que considera riqueza, educação e expectativa de vida ao nascer, o país tem melhorado seu desempenho a cada ano, mas ainda está na 75ª posição dentre 115 países – praticamente o mesmo patamar verificado em 2002.


Quando a desigualdade de renda é contabilizada, o país tem um desempenho pior do que a média da América Latina, segundo a ONU.


As diferenças regionais também constituem um dos principais desafios do país nos próximos anos. Um levantamento recente do IBGE mostra que 99,8% das cidades do Estado de São Paulo eram servidas com rede de esgoto em 2008, enquanto no Piauí apenas 4,5% dos municípios eram atendidos.


Outro tema que costuma atrair a atenção internacional para o Brasil, a violência ainda tem indicadores que colocam o Brasil no topo dos rankings mundiais.


Ainda que o indicador tenha melhorado nas capitais, a taxa média de homicídios ainda é alta: 25,2 para cada grupo de 100 mil habitantes.


60 anos da TV no Brasil



Da improvisação ao vivo à era digital



Fonte: UOL



No cotidiano dos brasileiros, nenhum outro meio de comunicação foi mais presente ou influente do que a TV. Mesmo famílias que vivem em moradias simples, sem acesso à infraestrutura básica, como água encanada e esgoto, possuem um aparelho de TV no qual assistem a telejornais, novelas e jogos de futebol.


Aos 60 anos, a TV brasileira acumula elogios como uma das melhores do mundo. Ao mesmo tempo, a regulamentação do setor é uma das mais defasadas e propícias à manutenção de oligopólios de mídia. O fato, entretanto, é que a TV continua soberana em 95% dos lares brasileiros em plena era da internet.


A primeira emissora de televisão no Brasil, a TV Tupi, foi inaugurada há 60 anos, em 18 de setembro de 1950. No começo, os programas eram ao vivo e caracterizados pela improvisação, experimentação em linguagem (adaptada do rádio e do teatro) e falta de aparelhos receptores, devido ao alto custo. Nessa época, o rádio era o principal meio eletrônico de informação e entretenimento dos brasileiros.


O idealizador da TV brasileira foi Assis Chateaubriand (1892-1968), dono dos Diários Associados, um império de comunicação que incluía dezenas de jornais, revistas e rádios. Ele importou equipamentos e técnicos dos Estados Unidos e instalou duas antenas em São Paulo, uma no prédio do Banespa e outra na sede da empresa, no bairro Sumaré.


Como não havia televisores no país, o empresário contrabandeou 200 aparelhos, que foram dados de presentes a amigos e financiadores. Outros 22 receptores foram colocados em vitrines de 17 lojas do centro de São Paulo, para que as pessoas pudessem assistir da rua.


Na noite de estreia, o programa seria ao vivo - como era toda programação até os anos 1960. Para isso, foram feitos ensaios com semanas de antecedência. A inauguração teve direito a discurso presidencial e bispo benzendo as máquinas. Contudo, pouco antes do programa inaugural ir ao ar, uma das três câmeras pifou, atrasando o evento em mais de uma hora.


Pouquíssimas pessoas puderam ver as imagens onduladas, pouco nítidas e em close de rostos desconhecidos à época, como Hebe Camargo e Lima Duarte. Além da falta de aparelhos receptores, a transmissão tinha um alcance de apenas cem quilômetros.


Improviso



Nos dias seguintes, foi montada às pressas uma programação, que incluía programas de variedades, teleteatros e um noticiário, o "Imagens do Dia". A grade de programação tinha apenas cinco horas, das 17h às 22h. E, como tudo era encenado ao vivo, havia grandes intervalos entre os programas para permitir a troca de cenário e aparelhagem.


Programas como "O Céu é o Limite", de perguntas e respostas, repetiam o sucesso no rádio ou copiavam shows apresentados na TV americana.


Em 1951 começam a ser produzidos no país receptores da marca Invictus. Assis Chateaubriand lançou uma campanha publicitária para estimular a compra, mas o preço era muito alto para a classe média: uma televisão custava até três vezes mais que uma vitrola (toca-discos). Ao final deste ano, havia 7 mil televisores em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde foi inaugurada a Tupi Rio.


Até os anos 1960, novas emissoras foram inauguradas, como a TV Excelsior, a Globo, a Bandeirantes e a Rede Record. Nesse período, a TV Tupi entrou em decadência por motivos financeiros. A emissora teve a concessão cassada em 1980, pois a renovação exigia que tivesse os impostos pagos e ausência de processos judiciais e trabalhistas.


A partir dos anos 1970, a TV brasileira adquiriu um perfil mais empresarial . A Globo foi o primeiro canal de televisão a operar em rede. A emissora se tornou, ainda, especialista em telenovelas, o principal produto televisivo de exportação do país. A Copa de 70 também impulsionou a venda de aparelhos (a TV em cores surgiu em 1972).


Atualmente, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 95% dos domicílios no país possuem aparelho de TV, porcentagem maior que a de geladeiras (92%) ou mesmo de casas atendidas com abastecimento de água (83,9%) e rede coletora de esgoto (52,5%). Os dados são referentes ao ano de 2008.

Poder



As primeiras transmissões de TV foram feitas na Alemanha, em 1935. No ano seguinte, foram criadas emissoras no Reino Unido e nos Estados Unidos. O Brasil, primeiro país da América do Sul a ter transmissão televisiva, adotou um modelo americano de TV comercial. Na Europa, ao contrário, o veículo surgiu com um perfil público e educativo.


O modelo comercial, que tem influência sobre o conteúdo da programação, foi alvo por muitos anos da crítica de teóricos da comunicação. Para eles, a TV era um mero instrumento de controle social e político.


Durante o regime militar (1964-1986), a TV teve um papel importante na integração do Brasil. Por isso, o governo favoreceu a concentração dos veículos de comunicação nas mãos de poucos grupos empresariais. Esse quadro predomina até os dias atuais.


De acordo com o Projeto Donos da Mídia, os conglomerados que operam as cinco maiores redes privadas - Globo, Band, SBT, Record e Rede TV! - também controlam, direta ou indiretamente, alguns dos mais importantes meios de comunicação do país. O serviço de radiodifusão brasileiro é regulamentado mediante um sistema de outorgas. As outorgas são concedidas por meio de licitações apreciadas pelo Congresso e sancionadas pelo presidente da República.


O problema é que, na maior parte das vezes, são os próprios senadores e deputados ligados a empresas de comunicação que concedem ou renovam as concessões. Além disso, muitos políticos são donos de rádios e TVs, mas usam o nome de "laranjas" para burlar o artigo nº 54 da Constituição Federal, que proíbe a prática.


Com esse histórico, a TV brasileira entrou no século 21 com importantes desafios tecnológicos pela frente. Hoje ela possui dezenas de canais por assinatura, sinal digital (cuja transmissão foi iniciada em 2 de dezembro de 2007) e a possibilidade de convergência com outras mídias, como celulares e computadores. Isso irá permitir uma maior interação com o público e, aos poucos, mudar a maneira como assistimos à TV.


Ocidente e Islã



Choque entre duas culturas define mundo contemporâneo



Fonte: UOL



Na véspera dos 9 anos dos atentados do 11 de Setembro , a ameaça de um pastor americano de queimar o Alcorão mobilizou lideranças mundiais para evitar uma crise entre o Ocidente e o Islã. Na Europa, o Senado francês aprovou uma lei polêmica que proíbe o uso de véu por muçulmanas, seguindo uma tendência conservadora entre governos europeus.


Cada vez mais, o antagonismo entre as modernas nações capitalistas e países islâmicos se torna fonte de conflitos políticos e religiosos no mundo pós-Guerra Fria .


Terry Jones era um desconhecido pastor de uma igreja na cidade de Gainesville, de 114 mil habitantes, no Estado da Flórida. Ele chamou a atenção da imprensa internacional ao anunciar que queimaria exemplares do Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, no aniversário dos ataques de 2001. A intenção do religioso era protestar contra o projeto de construção de um centro islâmico próximo ao Marco Zero, local onde era situado o World Trade Center.


Temendo reações de extremistas islâmicos, autoridades como o Papa Bento 16, o presidente Barack Obama e o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon , além de chefes de Estado da Europa, pediram que o religioso desistisse do ato. Ao mesmo tempo, três pessoas morreram em manifestações contrárias ao pastor no Afeganistão. A pressão, porém, surtiu efeito, e Jones desistiu de queimar o livro sagrado.


Episódios como esse têm se tornado mais comuns nos últimos anos. Em 1989, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie ficou famoso depois do Irã decretar uma fatwa (sentença de morte) contra ele. Rushdie foi acusado de blasfêmia em seu romance Os Versos Satânicos. Desde então, passou a viver escondido e sob proteção policial, mesmo após o Irã suspender a condenação em 1998, atendendo aos apelos da comunidade internacional.


Em 30 de setembro de 2005, o jornal Jyllands-Posten, de maior tiragem na Dinamarca, publicou 12 caricaturas intituladas "As faces de Maomé". As charges provocaram manifestações violentas, incêndios em embaixadas dinamarquesas e uma crise diplomática com países árabes. O redator-chefe do jornal, que foi ameaçado de morte, pediu desculpas publicamente, enquanto outros jornais europeus publicaram as caricaturas em defesa da liberdade de expressão e de imprensa.


Mais recentemente, países europeus votaram leis restritivas aos costumes islâmicos em ações consideradas hostis pelos 15 milhões de muçulmanos que vivem no continente. Em 29 de novembro de 2009, a Suíça aprovou, mediante referendo, a construção de minaretes - torres de mesquita de onde se chamam os muçulmanos para as orações diárias.


No último 14 de setembro, o Senado francês aprovou uma lei que proíbe o uso de véus islâmicos integrais - a "burka" e o "niqab" - em espaços públicos do país. Os parlamentares alegam questões de segurança, além de respeito aos direitos das mulheres.


Mas a lei, que deve entrar em vigor no próximo ano, causou controvérsia no país que abriga a maior comunidade muçulmana da Europa. O islamismo é a segunda maior religião da França, atrás somente do catolicismo.


A norma prevê multa de 150 euros para quem desacatar a proibição do uso da vestimenta. Estimativas apontam que cerca de 2 mil mulheres usam o véu no país. Propostas semelhantes foram aprovadas na Bélgica e na Dinamarca (proibição parcial), e entraram em discussão na Itália, Espanha, Reino Unido, Holanda e Áustria.


Raízes comuns



Islã ou civilização islâmica se refere aos povos que seguem a religião do islamismo, cujos fiéis são chamados muçulmanos ou islamitas. O islamismo foi fundado pelo profeta Maomé no século 7, na Arábia. Ele possui raízes comuns com outras duas religiões monoteístas, o cristianismo e o judaísmo.


Apesar de essa religião ter surgido entre os árabes, eles representam apenas 15% dos muçulmanos no mundo. O islamismo é predominante em mais de 50 países do Oriente Médio , Ásia, África e Europa, estando espalhado em comunidades em todo o mundo, inclusive no Brasil.


O Alcorão (ou Corão) é o livro sagrado dos muçulmanos. Eles consideram que a obra foi ditada a Maomé pelo arcanjo Gabriel.


Uma das principais diferenças dos países islâmicos em relação ao Ocidente é justamente não separar religião de Estado. O Alcorão serve de base para organização social, política e jurídica ("sharia"). Por esta razão, enquanto a maioria dos povos ocidentais adotou a democracia , os povos islâmicos vivem, em sua maior parte, em teocracias. A Turquia é um dos raros países de maioria muçulmana que também é secular e democrático.


Outro ponto de discórdia diz respeito a liberdades civis e direitos humanos, considerados uma conquista no mundo moderno. Uma interpretação mais rigorosa do Alcorão acaba confrontando alguns destes valores ocidentais.


Por conta desse estranhamento, para o Islã a cultura ocidental é materialista, decadente e imoral. Os ocidentais, por sua vez, costumam associar os muçulmanos a grupos terroristas, como a Al-Qaeda , o Hamas e o Hezbollah , e à violência contra mulheres e minorias. Ambas as visões, é claro, são equivocadas na maioria das vezes.


Cruzadas



As diferenças religiosas, culturais e políticas entre os povos islâmicos e os ocidentais se acentuaram a partir da segunda metade do século 20. Dessa forma, os principais conflitos do mundo contemporâneo, como as guerras do Iraque e do Afeganistão, possuem causas na animosidade entre as duas civilizações. A origem da discórdia, porém, é bem mais antiga.


Entre os séculos 7 e 8, os árabes dominaram o Oriente Médio, o Norte da África, a Pérsia e a Índia Setentrional. A reação da Cristandade começou no século 11, com a conquista do Mediterrâneo e o início das Cruzadas (1095). Por um século e meio, os cristãos resistiram em potentados na Terra Santa, até a invasão dos turcos otomanos, que retomaram o controle da região dos Bálcãs e do Oriente Médio.


Até então, e durante a maior parte da história da humanidade, o contato entre povos foi escasso e pouco duradouro. O motivo eram as dificuldades para se transpor as barreiras geográficas. Isso começou a mudar a partir dos séculos 15 e 16, com a expansão colonial.


As principais nações imperialistas, como Inglaterra, França, Espanha, Alemanha e Estados Unidos, travaram guerras e promoveram campanhas expansionistas até o século 20. O imperialismo europeu levou seus valores ocidentais - oriundos de dois importantes movimentos, a Reforma Protestante e o Iluminismo - ao mundo árabe. Décadas depois, os Estados Unidos fariam o mesmo em guerras no Golfo Pérsico .


Acontece que tais iniciativas, promovidas mediante o poderio bélico, só alimentaram movimentos nacionalistas e de independência nos países árabes, que passaram a ver o ocidental como inimigo. Um bom exemplo disso é a Guerra do Iraque, que constituiu uma tentativa, até agora fracassada, de implantar a democracia à força. Como resultado dessas intervenções, os americanos se tornaram o principal alvo de grupos extremistas como a Al- Qaeda, suspeita dos atentados de 11 de Setembro.


Fundamentalismo



Mas como o Islã ganhou importância no panorama geopolítico do mundo moderno? Até poucas décadas atrás, durante a Guerra Fria, o mundo era dividido em três blocos econômicos e ideológicos distintos: havia o Primeiro Mundo, representado pelos Estados Unidos; o bloco socialista, liderado pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e o chamado Terceiro Mundo, formado por países pobres e não alinhados (entre eles o Brasil).


Neste contexto, o islamismo surgiu em sua versão fundamentalista como movimento religioso e intelectual, nos anos 1970, e se espalhou rapidamente pelo Oriente Médio, África, Ásia e Europa. Para isso, contou com o financiamento de potências árabes, ricas em petróleo, e ocidentais, que os viram como alternativa a movimentos nacionalistas e comunistas.


Com o colapso dos regimes comunistas no final dos anos 1980, os choques culturais com o Islã substituíram a antiga disputa entre as superpotências.

Isso ocorreu primeiro devido à crescente importância das nações árabes, decorrente da alta do preço do petróleo, até os anos 1980, e depois em razão do crescimento populacional. O aumento da população de jovens também alimentou o fundamentalismo. Depois de doutrinados, os jovens se espalharam pelo Ocidente e, com a maior proximidade entre os povos, foram acentuadas as diferenças religiosas e de valores culturais.


Em segundo lugar, enquanto na maior parte da Europa a queda de ditaduras socialistas deu lugar a regimes democráticos, em países islâmicos, ausentes de tradição democrática, o fundamentalismo foi adotado. Um exemplo foi a Revolução Iraniana de 1979, que precedeu o fim do comunismo. Com a esquerda combalida, a afirmação de identidades regionais em torno do islamismo emergiu como principal resposta ao processo de globalização .


Os ataques do 11 de Setembro nos Estados Unidos foram o ponto alto desse embate cultural. Desde então, a tensão entre os povos islâmicos e ocidentais tem ditado manobras diplomáticas e políticas, com um forte - e perigoso - apelo a radicais de ambos os lados.




Fim da Guerra do Iraque



Desafio agora é manter estabilidade política e segurança no país



Fonte: UOL




Após mais de sete anos, os Estados Unidos terminaram uma das guerras mais caras e polêmicas de sua história. No último dia 31 de agosto, cumprindo uma promessa de campanha, o presidente Barack Obama anunciou o térmico da missão de combate no Iraque. Os iraquianos enfrentam agora o desafio de manter a segurança e compor um governo em meio a desavenças étnicas que dividem a nação.


A Operação Liberdade Iraquiana começou em 20 de março de 2003, durante o governo de George W. Bush (2001-2009). O motivo alegado para a invasão, a suposta existência de armas de destruição em massa, nunca foi comprovado. O objetivo era destituir o ditador Saddam Hussein do poder e estabelecer um regime democrático. Por trás disso, havia o interesse no controle das reservas de petróleo iraquianas e no domínio estratégico na região.


Na época, Bush tinha apoio da população para promover sua "guerra contra o terror". A campanha foi iniciada após osataques às torres gêmeas do World Trade Center (Nova York), em 11 de setembro de 2001. Nos anos seguintes, porém, o país se envolveu em duas guerras, no Afeganistão e no Iraque, e enfrentou a maior crise econômica desde a Grande Depressão (1929-1933).


Somente a guerra no Iraque custou US$ 744 bilhões (R$ 1,3 trilhão) e matou mais de 4.419 militares (até 3 de agosto) e 100 mil civis iraquianos. A imagem dos Estados Unidos também foi prejudicada devido a denúncias de maus tratos a presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib e operações violentas nas ruas de Bagdá.


Era, portanto, uma guerra que só acumulava despesas. Os prejuízos eram tanto financeiros quanto políticos. O desgaste de Bush, agravado pela demora ao socorro às vítimas do furacão Katrina em 29 de agosto de 2005, foi decisivo para a eleição de Obama no ano passado. Dentre os compromissos do novo presidente estavam retirar os combatentes do Iraque e concentrar esforços na economia doméstica.


Para completar a retirada, no último dia 1º de setembro o governo americano deu início à Operação Novo Amanhecer. Um efetivo de 49.700 soldados (dos 64 mil remanescentes) irá permanecer no Iraque para treinar a polícia e o Exército locais. Obama enfatizou que os soldados deixarão definitivamente o país até o final de 2011. Para isso, pediu pressa na composição de um novo governo no Iraque.


Não será fácil reconstruir o país. O Iraque, assim como a maioria dos países do Oriente Médio , não possui tradição democrática. Além disso, décadas de guerras destruíram a infraestrutura necessária para o desenvolvimento. E há disputas entre grupos étnicos que impedem a formação de um Estado. A unificação do país só foi possível, até hoje, por meio da ditadura.


Era Saddam



O Iraque é um país rico em petróleo, mas pouco desenvolvido devido a séculos de guerra e ocupação estrangeira. Depois de quatro séculos dominado pelo Império Otomano, passou a ser colônia do Reino Unido após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Quatro décadas mais tarde, o período de transição da monarquia foi marcado por sucessivos golpes de Estado.


Os conflitos terminaram com a chegada do partido de Saddam Hussein ao poder, em 1968. O ditador assumiu a presidência em 1979, iniciando um dos regimes mais violentos do Oriente Médio. Na ocasião, em plena Guerra Fria (1945-1991), ele tinha apoio dos Estados Unidos. A razão disso era a rivalidade com o Irã, país dos aiatolás que pregava o fim de Israel e desafiava os americanos.


Durante o governo de Saddam, o Iraque enfrentou três guerras do Golfo Pérsico que devastaram a economia do país: a primeira contra o Irã (1980-88), a segunda com a invasão do Kuwait (1990-91) e, finalmente, a ocupação dos Estados Unidos (2003-2010). O ditador iraquiano foi deposto e capturado ao final de 2003. Ele foi condenado à morte em dezembro de 2006 pelo assassinato de 148 muçulmanos xiitas na vila de Dujail, ocorrido em 1982.


A sociedade iraquiana é formada por três grupos étnicos e religiosos que brigam entre si há séculos. Os árabes perfazem entre 75% e 80% da população, de 29 milhões de habitantes. Os curdos estão entre 15 e 20% desse total. A principal religião é a muçulmana, dividida entre xiitas (60 a 65%) e a minoria sunita (32% a 37%).


Os sunitas governaram o país desde a sua criação, em 1920. Essa situação mudou a partir de outubro de 2005, quando os iraquianos aprovaram uma Constituição mediante um referendo nacional. Em dezembro foi composto o Parlamento, no primeiro governo constitucional no país em quase 50 anos, de maioria xiita. As diferenças étnicas vieram à tona em atentados violentos até 2007.


Impasse político



Nas eleições parlamentares de 7 de março deste ano , a coalizão xiita do primeiro-ministro Nouri al Maliki, o Estado de Direito, terminou em segundo lugar, atrás da aliança Iraqiya, do ex-premiê Iyad Allawi (que tem apoio dos sunitas). A Aliança Nacional Iraquiana, de xiitas radicais, ficou em terceiro lugar na disputa.


Houve denúncias de fraudes e recontagem de votos, mas os números permaneceram inalterados. O resultado nas urnas obrigou os partidos a negociarem a composição de um novo governo, secular e multiétnico.


No entanto, passados seis meses das eleições, não foi sequer nomeado um novo primeiro ministro. Os três blocos não se entenderam e não surgiu um outro nome, além de Maliki, para concorrer ao cargo.


Enquanto isso, uma nova onda de violência tomou conta das ruas de Bagdá. A duas semanas da retirada das tropas, um ataque deixou pelo menos 59 mortos. Outras 12 pessoas morreram em ataques de homens-bomba contra um complexo militar, depois do fim da missão. Os atentados colocam em dúvida as garantias do governo iraquiano de que o país tem condições de cuidar da própria segurança.



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Roberto Santos