As preparações para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016, além da exploração das reservas do pré-sal, completam o quadro de um país que tende a estar com sua imagem cada vez mais exposta à comunidade internacional.
Veja os principais motivos que levam as eleições brasileiras a serem alvo de atenção internacional.
Economia
Poucos países deixaram a crise financeira internacional para trás de forma tão rápida quanto o Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer perto de 7,5% este ano, após uma retração de 0,2% em 2009 – resultado que, apesar de negativo, ficou acima da média, considerando as principais economias do mundo.
Mas não é só a rápida recuperação que vem animando investidores estrangeiros. Com um crescimento médio de 4,8% de 2002 a 2008, o Brasil tem conseguido aliar expansão econômica com inflação sob controle.
O resultado é uma crescente classe média com apetite para o consumo, que tem sido o principal motor da economia do país. Somente no 1º semestre deste ano, a demanda interna cresceu 8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mas o próximo governo também terá desafios: a taxa de juros do país, descontada a inflação, é uma das maiores do mundo. A carga tributária chega a 36% do PIB, a maior da América Latina, e o país investe pouco, o equivalente a 17,9% do PIB – quando na China e na Índia chega-se a 43% e 34%, respectivamente.
Mas o ambiente macroeconômico favorável, somado a projetos vultosos (dentre eles a exploração de petróleo em camadas profundas e a realização da Copa do Mundo em 2014) deixam os investidores otimistas quanto ao Brasil. Muitos deles, inclusive, já veem o país entre as cinco maiores economias do mundo em um prazo de 15 anos.
Papel geopolítico crescente
Os defensores da diplomacia brasileira costumam dizer que o Brasil “mudou seu patamar” nas relações internacionais e que não existe mais “mesa” em que o país não esteja representado.
Ainda que essa maior participação seja motivo de controvérsia entre os especialistas, o fato é o que o Brasil vem se tornando cada vez mais atuante em determinados fóruns internacionais, sobretudo quando o assunto é economia e meio ambiente.
Um exemplo desse novo papel geopolítico está na participação do país no G20 financeiro, que ganhou destaque em função da crise internacional de 2008.
O Brasil tem sido uma das principais vozes dentre os emergentes em busca de uma nova ordem econômica mundial, com maior peso para esses países em organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Dono da maior floresta tropical do mundo e grande usuário de energia limpa, o Brasil também se tornou presença constante nas discussões sobre mudança do clima no âmbito das Nações Unidas.
Em novembro do ano passado, o país figurou, ao lado de Estados Unidos, União Europeia, China, Índia e África do Sul, entre os principais negociadores da reunião de Copenhague sobre mudanças climáticas.
Os mais críticos, no entanto, argumentam que, apesar dessa maior participação, o país está longe de alcançar resultados concretos, já que o sistema internacional continua sendo conduzido pelas grandes potências.
Política externa mais agressiva
Não é apenas nos fóruns internacionais que o Brasil tem tido papel mais agressivo: a política externa bilateral também se acentuou nos últimos anos, com maior destaque para as relações Sul-Sul.
De olho em uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, o país vem buscando um maior alinhamento com governos de regiões até então pouco exploradas pelo Itamaraty, caso da África e do Oriente Médio.
Recentemente, o Brasil atraiu os holofotes internacionais ao intermediar, junto com a Turquia, um acordo nuclear com o Irã, gerando certa insatisfação no governo americano.
Ao mesmo tempo em que é saudada pela diplomacia brasileira, a aproximação com o governo de Mahmoud Ahmadinejad tem gerado uma série de críticas a Brasília, que não estaria usando sua influência junto ao país persa para tentar atenuar supostos abusos em direitos humanos.
O aprofundamento das relações com países africanos também tem sido uma importante marca da diplomacia brasileira, interessada não apenas em ampliar seu leque de aliados políticos, mas também diversificar suas opções de investimento no exterior.
Por outro lado, alguns analistas costumam apontar um certo “excesso” nas pretensões brasileiras. O argumento é de que a diplomacia brasileira estaria colocando a ideologia política à frente dos interesses econômicos e comerciais do país.
População
Com uma população de 191 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto maior do mundo nessa categoria, atrás apenas de China, Índia, Estados Unidos e Indonésia.
Considerando a taxa média de fecundidade entre 2002 e 2006, que foi de 1,5 filho por mulher, o Brasil chegará ao ano de 2020 com uma população de 207 milhões de pessoas, segundo estimativas.
Apesar da tendência de queda, a parcela dos jovens no país ainda é expressiva: cerca de 32,8% da população é formada por pessoas com até 19 anos de idade. Há dez anos, porém, essa mesma parcela era de 40%.
Esse crescimento impõe uma série de desafios ao país, dentre eles uma melhor estrutura em transporte e moradia. De acordo com a ONU, o Brasil tem 55 milhões de pessoas vivendo em favelas ou em outros tipos de moradias inadequadas.
Agricultura e pecuária
Se por um lado o Brasil ainda deixa a desejar quando o assunto é a produtividade na indústria, o mesmo não se pode dizer do campo: o país é um dos maior produtores de alimentos do mundo e ainda tem um alto potencial de expansão.
Nos últimos dez anos, a produção total de alimentos saiu de 80 milhões de toneladas para quase 150 milhões – um crescimento de 87%. O país é o maior exportador mundial de suco de laranja, açúcar, frango, carne bovina e café, além de ser o segundo maior em soja.
Diante do crescimento da população mundial e da necessidade de abastecer um maior número de pessoas com uma dieta cada vez mais diferenciada, alguns especialistas têm apontado o Brasil como “celeiro” do mundo.
O apelido leva em consideração não apenas o que o país produz e exporta atualmente, mas principalmente seu potencial de expansão: segundo as Nações Unidas, o Brasil tem 50 milhões de hectares de terra sob cultivo e outros 300 milhões de hectares aráveis, mais do que qualquer outro país.
Mas apesar do espaço “de sobra”, a expansão do cultivo deverá esbarrar em alguns desafios, como a qualidade de vida no campo e a pressão sobre áreas protegidas.
Para muitos ambientalistas, uma possível alta nos preços das commodities, somada a uma fiscalização ineficiente, podem colocar em risco os biomas da Amazônia e do Cerrado.
Desafios sociais
O Brasil vem conseguindo melhorar seus principais indicadores sociais nos últimos anos, muitas vezes em consequência do crescimento econômico e de uma inflação sob controle.
De 2003 a 2008, cerca de 32 milhões de brasileiros deixaram as classes D e E, ingressando nas classes A, B e C, segundo estimativas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
No que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que considera riqueza, educação e expectativa de vida ao nascer, o país tem melhorado seu desempenho a cada ano, mas ainda está na 75ª posição dentre 115 países – praticamente o mesmo patamar verificado em 2002.
Quando a desigualdade de renda é contabilizada, o país tem um desempenho pior do que a média da América Latina, segundo a ONU.
As diferenças regionais também constituem um dos principais desafios do país nos próximos anos. Um levantamento recente do IBGE mostra que 99,8% das cidades do Estado de São Paulo eram servidas com rede de esgoto em 2008, enquanto no Piauí apenas 4,5% dos municípios eram atendidos.
Outro tema que costuma atrair a atenção internacional para o Brasil, a violência ainda tem indicadores que colocam o Brasil no topo dos rankings mundiais.
Ainda que o indicador tenha melhorado nas capitais, a taxa média de homicídios ainda é alta: 25,2 para cada grupo de 100 mil habitantes.
60 anos da TV no Brasil
Da improvisação ao vivo à era digital
Fonte: UOL
No cotidiano dos brasileiros, nenhum outro meio de comunicação foi mais presente ou influente do que a TV. Mesmo famílias que vivem em moradias simples, sem acesso à infraestrutura básica, como água encanada e esgoto, possuem um aparelho de TV no qual assistem a telejornais, novelas e jogos de futebol.
Aos 60 anos, a TV brasileira acumula elogios como uma das melhores do mundo. Ao mesmo tempo, a regulamentação do setor é uma das mais defasadas e propícias à manutenção de oligopólios de mídia. O fato, entretanto, é que a TV continua soberana em 95% dos lares brasileiros em plena era da internet.
A primeira emissora de televisão no Brasil, a TV Tupi, foi inaugurada há 60 anos, em 18 de setembro de 1950. No começo, os programas eram ao vivo e caracterizados pela improvisação, experimentação em linguagem (adaptada do rádio e do teatro) e falta de aparelhos receptores, devido ao alto custo. Nessa época, o rádio era o principal meio eletrônico de informação e entretenimento dos brasileiros.
O idealizador da TV brasileira foi Assis Chateaubriand (1892-1968), dono dos Diários Associados, um império de comunicação que incluía dezenas de jornais, revistas e rádios. Ele importou equipamentos e técnicos dos Estados Unidos e instalou duas antenas em São Paulo, uma no prédio do Banespa e outra na sede da empresa, no bairro Sumaré.
Como não havia televisores no país, o empresário contrabandeou 200 aparelhos, que foram dados de presentes a amigos e financiadores. Outros 22 receptores foram colocados em vitrines de 17 lojas do centro de São Paulo, para que as pessoas pudessem assistir da rua.
Na noite de estreia, o programa seria ao vivo - como era toda programação até os anos 1960. Para isso, foram feitos ensaios com semanas de antecedência. A inauguração teve direito a discurso presidencial e bispo benzendo as máquinas. Contudo, pouco antes do programa inaugural ir ao ar, uma das três câmeras pifou, atrasando o evento em mais de uma hora.
Pouquíssimas pessoas puderam ver as imagens onduladas, pouco nítidas e em close de rostos desconhecidos à época, como Hebe Camargo e Lima Duarte. Além da falta de aparelhos receptores, a transmissão tinha um alcance de apenas cem quilômetros.
Improviso
Nos dias seguintes, foi montada às pressas uma programação, que incluía programas de variedades, teleteatros e um noticiário, o "Imagens do Dia". A grade de programação tinha apenas cinco horas, das 17h às 22h. E, como tudo era encenado ao vivo, havia grandes intervalos entre os programas para permitir a troca de cenário e aparelhagem.
Programas como "O Céu é o Limite", de perguntas e respostas, repetiam o sucesso no rádio ou copiavam shows apresentados na TV americana.
Em 1951 começam a ser produzidos no país receptores da marca Invictus. Assis Chateaubriand lançou uma campanha publicitária para estimular a compra, mas o preço era muito alto para a classe média: uma televisão custava até três vezes mais que uma vitrola (toca-discos). Ao final deste ano, havia 7 mil televisores em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde foi inaugurada a Tupi Rio.
Até os anos 1960, novas emissoras foram inauguradas, como a TV Excelsior, a Globo, a Bandeirantes e a Rede Record. Nesse período, a TV Tupi entrou em decadência por motivos financeiros. A emissora teve a concessão cassada em 1980, pois a renovação exigia que tivesse os impostos pagos e ausência de processos judiciais e trabalhistas.
A partir dos anos 1970, a TV brasileira adquiriu um perfil mais empresarial . A Globo foi o primeiro canal de televisão a operar em rede. A emissora se tornou, ainda, especialista em telenovelas, o principal produto televisivo de exportação do país. A Copa de 70 também impulsionou a venda de aparelhos (a TV em cores surgiu em 1972).
Atualmente, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 95% dos domicílios no país possuem aparelho de TV, porcentagem maior que a de geladeiras (92%) ou mesmo de casas atendidas com abastecimento de água (83,9%) e rede coletora de esgoto (52,5%). Os dados são referentes ao ano de 2008.
Poder
As primeiras transmissões de TV foram feitas na Alemanha, em 1935. No ano seguinte, foram criadas emissoras no Reino Unido e nos Estados Unidos. O Brasil, primeiro país da América do Sul a ter transmissão televisiva, adotou um modelo americano de TV comercial. Na Europa, ao contrário, o veículo surgiu com um perfil público e educativo.
O modelo comercial, que tem influência sobre o conteúdo da programação, foi alvo por muitos anos da crítica de teóricos da comunicação. Para eles, a TV era um mero instrumento de controle social e político.
Durante o regime militar (1964-1986), a TV teve um papel importante na integração do Brasil. Por isso, o governo favoreceu a concentração dos veículos de comunicação nas mãos de poucos grupos empresariais. Esse quadro predomina até os dias atuais.
De acordo com o Projeto Donos da Mídia, os conglomerados que operam as cinco maiores redes privadas - Globo, Band, SBT, Record e Rede TV! - também controlam, direta ou indiretamente, alguns dos mais importantes meios de comunicação do país. O serviço de radiodifusão brasileiro é regulamentado mediante um sistema de outorgas. As outorgas são concedidas por meio de licitações apreciadas pelo Congresso e sancionadas pelo presidente da República.
O problema é que, na maior parte das vezes, são os próprios senadores e deputados ligados a empresas de comunicação que concedem ou renovam as concessões. Além disso, muitos políticos são donos de rádios e TVs, mas usam o nome de "laranjas" para burlar o artigo nº 54 da Constituição Federal, que proíbe a prática.
Com esse histórico, a TV brasileira entrou no século 21 com importantes desafios tecnológicos pela frente. Hoje ela possui dezenas de canais por assinatura, sinal digital (cuja transmissão foi iniciada em 2 de dezembro de 2007) e a possibilidade de convergência com outras mídias, como celulares e computadores. Isso irá permitir uma maior interação com o público e, aos poucos, mudar a maneira como assistimos à TV.
Ocidente e Islã
Choque entre duas culturas define mundo contemporâneo
Fonte: UOL
Na véspera dos 9 anos dos atentados do 11 de Setembro , a ameaça de um pastor americano de queimar o Alcorão mobilizou lideranças mundiais para evitar uma crise entre o Ocidente e o Islã. Na Europa, o Senado francês aprovou uma lei polêmica que proíbe o uso de véu por muçulmanas, seguindo uma tendência conservadora entre governos europeus.
Cada vez mais, o antagonismo entre as modernas nações capitalistas e países islâmicos se torna fonte de conflitos políticos e religiosos no mundo pós-Guerra Fria .
Terry Jones era um desconhecido pastor de uma igreja na cidade de Gainesville, de 114 mil habitantes, no Estado da Flórida. Ele chamou a atenção da imprensa internacional ao anunciar que queimaria exemplares do Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, no aniversário dos ataques de 2001. A intenção do religioso era protestar contra o projeto de construção de um centro islâmico próximo ao Marco Zero, local onde era situado o World Trade Center.
Temendo reações de extremistas islâmicos, autoridades como o Papa Bento 16, o presidente Barack Obama e o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon , além de chefes de Estado da Europa, pediram que o religioso desistisse do ato. Ao mesmo tempo, três pessoas morreram em manifestações contrárias ao pastor no Afeganistão. A pressão, porém, surtiu efeito, e Jones desistiu de queimar o livro sagrado.
Episódios como esse têm se tornado mais comuns nos últimos anos. Em 1989, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie ficou famoso depois do Irã decretar uma fatwa (sentença de morte) contra ele. Rushdie foi acusado de blasfêmia em seu romance Os Versos Satânicos. Desde então, passou a viver escondido e sob proteção policial, mesmo após o Irã suspender a condenação em 1998, atendendo aos apelos da comunidade internacional.
Em 30 de setembro de 2005, o jornal Jyllands-Posten, de maior tiragem na Dinamarca, publicou 12 caricaturas intituladas "As faces de Maomé". As charges provocaram manifestações violentas, incêndios em embaixadas dinamarquesas e uma crise diplomática com países árabes. O redator-chefe do jornal, que foi ameaçado de morte, pediu desculpas publicamente, enquanto outros jornais europeus publicaram as caricaturas em defesa da liberdade de expressão e de imprensa.
Mais recentemente, países europeus votaram leis restritivas aos costumes islâmicos em ações consideradas hostis pelos 15 milhões de muçulmanos que vivem no continente. Em 29 de novembro de 2009, a Suíça aprovou, mediante referendo, a construção de minaretes - torres de mesquita de onde se chamam os muçulmanos para as orações diárias.
No último 14 de setembro, o Senado francês aprovou uma lei que proíbe o uso de véus islâmicos integrais - a "burka" e o "niqab" - em espaços públicos do país. Os parlamentares alegam questões de segurança, além de respeito aos direitos das mulheres.
Mas a lei, que deve entrar em vigor no próximo ano, causou controvérsia no país que abriga a maior comunidade muçulmana da Europa. O islamismo é a segunda maior religião da França, atrás somente do catolicismo.
A norma prevê multa de 150 euros para quem desacatar a proibição do uso da vestimenta. Estimativas apontam que cerca de 2 mil mulheres usam o véu no país. Propostas semelhantes foram aprovadas na Bélgica e na Dinamarca (proibição parcial), e entraram em discussão na Itália, Espanha, Reino Unido, Holanda e Áustria.
Raízes comuns
Islã ou civilização islâmica se refere aos povos que seguem a religião do islamismo, cujos fiéis são chamados muçulmanos ou islamitas. O islamismo foi fundado pelo profeta Maomé no século 7, na Arábia. Ele possui raízes comuns com outras duas religiões monoteístas, o cristianismo e o judaísmo.
Apesar de essa religião ter surgido entre os árabes, eles representam apenas 15% dos muçulmanos no mundo. O islamismo é predominante em mais de 50 países do Oriente Médio , Ásia, África e Europa, estando espalhado em comunidades em todo o mundo, inclusive no Brasil.
O Alcorão (ou Corão) é o livro sagrado dos muçulmanos. Eles consideram que a obra foi ditada a Maomé pelo arcanjo Gabriel.
Uma das principais diferenças dos países islâmicos em relação ao Ocidente é justamente não separar religião de Estado. O Alcorão serve de base para organização social, política e jurídica ("sharia"). Por esta razão, enquanto a maioria dos povos ocidentais adotou a democracia , os povos islâmicos vivem, em sua maior parte, em teocracias. A Turquia é um dos raros países de maioria muçulmana que também é secular e democrático.
Outro ponto de discórdia diz respeito a liberdades civis e direitos humanos, considerados uma conquista no mundo moderno. Uma interpretação mais rigorosa do Alcorão acaba confrontando alguns destes valores ocidentais.
Por conta desse estranhamento, para o Islã a cultura ocidental é materialista, decadente e imoral. Os ocidentais, por sua vez, costumam associar os muçulmanos a grupos terroristas, como a Al-Qaeda , o Hamas e o Hezbollah , e à violência contra mulheres e minorias. Ambas as visões, é claro, são equivocadas na maioria das vezes.
Cruzadas
As diferenças religiosas, culturais e políticas entre os povos islâmicos e os ocidentais se acentuaram a partir da segunda metade do século 20. Dessa forma, os principais conflitos do mundo contemporâneo, como as guerras do Iraque e do Afeganistão, possuem causas na animosidade entre as duas civilizações. A origem da discórdia, porém, é bem mais antiga.
Entre os séculos 7 e 8, os árabes dominaram o Oriente Médio, o Norte da África, a Pérsia e a Índia Setentrional. A reação da Cristandade começou no século 11, com a conquista do Mediterrâneo e o início das Cruzadas (1095). Por um século e meio, os cristãos resistiram em potentados na Terra Santa, até a invasão dos turcos otomanos, que retomaram o controle da região dos Bálcãs e do Oriente Médio.
Até então, e durante a maior parte da história da humanidade, o contato entre povos foi escasso e pouco duradouro. O motivo eram as dificuldades para se transpor as barreiras geográficas. Isso começou a mudar a partir dos séculos 15 e 16, com a expansão colonial.
As principais nações imperialistas, como Inglaterra, França, Espanha, Alemanha e Estados Unidos, travaram guerras e promoveram campanhas expansionistas até o século 20. O imperialismo europeu levou seus valores ocidentais - oriundos de dois importantes movimentos, a Reforma Protestante e o Iluminismo - ao mundo árabe. Décadas depois, os Estados Unidos fariam o mesmo em guerras no Golfo Pérsico .
Acontece que tais iniciativas, promovidas mediante o poderio bélico, só alimentaram movimentos nacionalistas e de independência nos países árabes, que passaram a ver o ocidental como inimigo. Um bom exemplo disso é a Guerra do Iraque, que constituiu uma tentativa, até agora fracassada, de implantar a democracia à força. Como resultado dessas intervenções, os americanos se tornaram o principal alvo de grupos extremistas como a Al- Qaeda, suspeita dos atentados de 11 de Setembro.
Fundamentalismo
Mas como o Islã ganhou importância no panorama geopolítico do mundo moderno? Até poucas décadas atrás, durante a Guerra Fria, o mundo era dividido em três blocos econômicos e ideológicos distintos: havia o Primeiro Mundo, representado pelos Estados Unidos; o bloco socialista, liderado pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e o chamado Terceiro Mundo, formado por países pobres e não alinhados (entre eles o Brasil).
Neste contexto, o islamismo surgiu em sua versão fundamentalista como movimento religioso e intelectual, nos anos 1970, e se espalhou rapidamente pelo Oriente Médio, África, Ásia e Europa. Para isso, contou com o financiamento de potências árabes, ricas em petróleo, e ocidentais, que os viram como alternativa a movimentos nacionalistas e comunistas.
Com o colapso dos regimes comunistas no final dos anos 1980, os choques culturais com o Islã substituíram a antiga disputa entre as superpotências.
Isso ocorreu primeiro devido à crescente importância das nações árabes, decorrente da alta do preço do petróleo, até os anos 1980, e depois em razão do crescimento populacional. O aumento da população de jovens também alimentou o fundamentalismo. Depois de doutrinados, os jovens se espalharam pelo Ocidente e, com a maior proximidade entre os povos, foram acentuadas as diferenças religiosas e de valores culturais.
Em segundo lugar, enquanto na maior parte da Europa a queda de ditaduras socialistas deu lugar a regimes democráticos, em países islâmicos, ausentes de tradição democrática, o fundamentalismo foi adotado. Um exemplo foi a Revolução Iraniana de 1979, que precedeu o fim do comunismo. Com a esquerda combalida, a afirmação de identidades regionais em torno do islamismo emergiu como principal resposta ao processo de globalização .
Os ataques do 11 de Setembro nos Estados Unidos foram o ponto alto desse embate cultural. Desde então, a tensão entre os povos islâmicos e ocidentais tem ditado manobras diplomáticas e políticas, com um forte - e perigoso - apelo a radicais de ambos os lados.
Fim da Guerra do Iraque
Desafio agora é manter estabilidade política e segurança no país
Fonte: UOL
Após mais de sete anos, os Estados Unidos terminaram uma das guerras mais caras e polêmicas de sua história. No último dia 31 de agosto, cumprindo uma promessa de campanha, o presidente Barack Obama anunciou o térmico da missão de combate no Iraque. Os iraquianos enfrentam agora o desafio de manter a segurança e compor um governo em meio a desavenças étnicas que dividem a nação.
A Operação Liberdade Iraquiana começou em 20 de março de 2003, durante o governo de George W. Bush (2001-2009). O motivo alegado para a invasão, a suposta existência de armas de destruição em massa, nunca foi comprovado. O objetivo era destituir o ditador Saddam Hussein do poder e estabelecer um regime democrático. Por trás disso, havia o interesse no controle das reservas de petróleo iraquianas e no domínio estratégico na região.
Na época, Bush tinha apoio da população para promover sua "guerra contra o terror". A campanha foi iniciada após osataques às torres gêmeas do World Trade Center (Nova York), em 11 de setembro de 2001. Nos anos seguintes, porém, o país se envolveu em duas guerras, no Afeganistão e no Iraque, e enfrentou a maior crise econômica desde a Grande Depressão (1929-1933).
Somente a guerra no Iraque custou US$ 744 bilhões (R$ 1,3 trilhão) e matou mais de 4.419 militares (até 3 de agosto) e 100 mil civis iraquianos. A imagem dos Estados Unidos também foi prejudicada devido a denúncias de maus tratos a presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib e operações violentas nas ruas de Bagdá.
Era, portanto, uma guerra que só acumulava despesas. Os prejuízos eram tanto financeiros quanto políticos. O desgaste de Bush, agravado pela demora ao socorro às vítimas do furacão Katrina em 29 de agosto de 2005, foi decisivo para a eleição de Obama no ano passado. Dentre os compromissos do novo presidente estavam retirar os combatentes do Iraque e concentrar esforços na economia doméstica.
Para completar a retirada, no último dia 1º de setembro o governo americano deu início à Operação Novo Amanhecer. Um efetivo de 49.700 soldados (dos 64 mil remanescentes) irá permanecer no Iraque para treinar a polícia e o Exército locais. Obama enfatizou que os soldados deixarão definitivamente o país até o final de 2011. Para isso, pediu pressa na composição de um novo governo no Iraque.
Não será fácil reconstruir o país. O Iraque, assim como a maioria dos países do Oriente Médio , não possui tradição democrática. Além disso, décadas de guerras destruíram a infraestrutura necessária para o desenvolvimento. E há disputas entre grupos étnicos que impedem a formação de um Estado. A unificação do país só foi possível, até hoje, por meio da ditadura.
Era Saddam
O Iraque é um país rico em petróleo, mas pouco desenvolvido devido a séculos de guerra e ocupação estrangeira. Depois de quatro séculos dominado pelo Império Otomano, passou a ser colônia do Reino Unido após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Quatro décadas mais tarde, o período de transição da monarquia foi marcado por sucessivos golpes de Estado.
Os conflitos terminaram com a chegada do partido de Saddam Hussein ao poder, em 1968. O ditador assumiu a presidência em 1979, iniciando um dos regimes mais violentos do Oriente Médio. Na ocasião, em plena Guerra Fria (1945-1991), ele tinha apoio dos Estados Unidos. A razão disso era a rivalidade com o Irã, país dos aiatolás que pregava o fim de Israel e desafiava os americanos.
Durante o governo de Saddam, o Iraque enfrentou três guerras do Golfo Pérsico que devastaram a economia do país: a primeira contra o Irã (1980-88), a segunda com a invasão do Kuwait (1990-91) e, finalmente, a ocupação dos Estados Unidos (2003-2010). O ditador iraquiano foi deposto e capturado ao final de 2003. Ele foi condenado à morte em dezembro de 2006 pelo assassinato de 148 muçulmanos xiitas na vila de Dujail, ocorrido em 1982.
A sociedade iraquiana é formada por três grupos étnicos e religiosos que brigam entre si há séculos. Os árabes perfazem entre 75% e 80% da população, de 29 milhões de habitantes. Os curdos estão entre 15 e 20% desse total. A principal religião é a muçulmana, dividida entre xiitas (60 a 65%) e a minoria sunita (32% a 37%).
Os sunitas governaram o país desde a sua criação, em 1920. Essa situação mudou a partir de outubro de 2005, quando os iraquianos aprovaram uma Constituição mediante um referendo nacional. Em dezembro foi composto o Parlamento, no primeiro governo constitucional no país em quase 50 anos, de maioria xiita. As diferenças étnicas vieram à tona em atentados violentos até 2007.
Impasse político
Nas eleições parlamentares de 7 de março deste ano , a coalizão xiita do primeiro-ministro Nouri al Maliki, o Estado de Direito, terminou em segundo lugar, atrás da aliança Iraqiya, do ex-premiê Iyad Allawi (que tem apoio dos sunitas). A Aliança Nacional Iraquiana, de xiitas radicais, ficou em terceiro lugar na disputa.
Houve denúncias de fraudes e recontagem de votos, mas os números permaneceram inalterados. O resultado nas urnas obrigou os partidos a negociarem a composição de um novo governo, secular e multiétnico.
No entanto, passados seis meses das eleições, não foi sequer nomeado um novo primeiro ministro. Os três blocos não se entenderam e não surgiu um outro nome, além de Maliki, para concorrer ao cargo.
Enquanto isso, uma nova onda de violência tomou conta das ruas de Bagdá. A duas semanas da retirada das tropas, um ataque deixou pelo menos 59 mortos. Outras 12 pessoas morreram em ataques de homens-bomba contra um complexo militar, depois do fim da missão. Os atentados colocam em dúvida as garantias do governo iraquiano de que o país tem condições de cuidar da própria segurança.
Muito grato pela visita, bons estudos e boa sorte!
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Roberto Santos